Uma das casas noturnas definidoras da noite porto-alegrense da última década, o Beco anunciou oficialmente o seu fim nesta quinta-feira. Depois de 13 anos, a boate – que já funcionou em diversos endereços da cidade, já migrou para São Paulo, promoveu edições no Interior e teve revista e programa de rádio próprios – vai fazer uma festa especial de despedida no dia 14 de novembro, data exata da primeira festa da casa.
– A sensação de terminar esta história é um misto de tristeza e orgulho – conta Vitor Lucas, o dono da casa – Sou muito grato a tudo que vivi lá. Acabou porque não estava mais sendo legal fazer as festas como queríamos. Perdemos a identificação com o que estávamos fazendo, e resolvemos fechar antes que a coisa piorasse e tivéssemos que tocar gêneros mais avessos ao nosso conceito para poder sobreviver.
"Assim nascemos, assim saímos de cena", nome escolhido para a última festa da história do Beco, vai ser, conforme a descrição do evento no Facebook, "a maior e melhor noite de toda nossa história, nosso último porre e ressaca juntos, a inesquecível e épica cena final do Beco203". Os ingressos custam R$ 50 para quem (ainda) tem o Cartão do Beco, R$ 70 com lista no site e R$ 90 na porta. Sobre o som? "Nesta noite nossas pickups NÃO TOCARÃO FUNK e o motivo é simples. Lá em 2004 o Beco foi concebido como uma casa de rock. Foi assim que nascemos, é assim que queremos sair de cena. Espere uma festa de INDIE, ROCK e ELETROROCK, tal qual as nossas primeiras festas".
Os músicos Jojô, Pedro Metz e Lucas Hanke foram parte importante da cena musical – e do público – da época. Confira o depoimento dos três sobre o Beco.
Pedro Metz, ex-vocalista da banda Pública: "A história da Pública se confunde com a história do Beco. Tocamos em todas as casas, em diversos Gig Rocks, fizemos show de inauguração e reinauguração, em Porto Alegre e São Paulo, fomos produzidos pelo Vitor uma época... Somos muito gratos e sabemos da importância deste espaço fundamental para a música e o comportamento de mais de uma geração. Óbvio que vejo com tristeza o fechamento de mais um espaço cultural em uma cidade que flerta cada vez mais com o obscurantismo. Ficam as lembranças e ótimos momentos que vivemos no Beco."
Jojô, guitarrista (ou ex) de bandas como Império da Lã, Stratopumas, Bidê ou Balde e Wannabe Jalva: "O Beco foi um grande ponto de virada na cultura de Porto Alegre, talvez o maior da minha geração, por dois motivos: primeiro, porque tinha um monte de gente nova, de certa forma desamparada, achando que nunca ia ter um lugar pra ouvir determinados tipos de sons e, literalmente, fazer o que quiser, até o Beco aparecer e de fato confortar esses nichos. Segundo, porque conseguiu abrir (a muito custo) um mercado de shows indies / independentes / chame do que quiser por aqui, proporcionando ao público daqui assistir bandas como Television e LCD Soundsystem, e isso é algo tão grande que fica difícil de agradecer."
Lucas Hanke, guitarrista da Identidade e produtor musical: "O Beco teve uma relação muito importante com a nova cena efervescente musical e cultural que acontecia em Porto Alegre entre os anos 2000 e 2010. em que conseguiu mesclar cenas autorais novas que estavam surgindo, com o GIG Rock, que foi o festival importante, fantástico, que trouxe bandas de fora pela primeira vez na cidade. Essa mescla da cena de bandas autorais que estavam surgindo com festas, DJs, formou um momento muito importante para a cultura da cidade. Os DJs também tocavam as bandas autorais, isso fez com que o público se identificasse. Foi quando ocorreu a consolidação de um estilo indie, independente. E, quando o Beco foi para a Avenida Independência, a própria cena cultural cresceu e se formou algo na região, com Bambu's, Cabaret, Beco, a sinuca. Foi algo muito legal para tudo que aconteceu naquele momento, para bandas como Pública, Superguidis, Identidade, Pata de Elefante, Locomotores. Foi muito massa, e o Beco era a casa da época."
Leia o depoimento completo de Vitor Lucas, dono do Beco, sobre o fechamento da casa:
"O Beco acabou porque não estava mais sendo legal fazermos festas como queríamos. Perdemos a identificação com o que estávamos fazendo. E, antes que a coisa piorasse e tivéssemos que tocar outros gêneros musicais mais avessos ao nosso conceito para poder sobreviver, resolvemos fechar. Foi muito legal os 13 anos em que conseguimos fazer um barulho cultural bem expressivo em Porto Alegre. E queremos ser lembrados por isso. As coisas mudam: conceitos, pessoas, hábitos. Sempre acompanhamos as mudanças, mas agora elas exigem que sacrifiquemos conceitos que não estamos dispostos a abrir mão. A sensação de terminar esta história é um misto de tristeza e orgulho. Sou muito grato a tudo que vivi no Beco de Porto Alegre. Tenho um carinho muito grande por clientes e colaboradores que viraram amigos e vou guardar para sempre estas lembranças. Foi uma festa/show que durou 13 anos. Agora tá na hora de descansar e curtir a ressaca. Quem sabe nascem novas ideias depois disso? Mas agora o foco é só encerrar esta história com o carinho e a atenção que estes 13 anos merecem. Fazendo festa. Vão ser os últimos 15 dias com as festas mais legais que o Beco já criou. Vai ser só para quem gosta de rock, indie, eletrorock e pop. Nada mais. Como era no início e vai ser no fim também."