O futebol é paixão, precisa tocar o coração do torcedor, mobilizá-lo, acionar o amor genuíno que ele tem pelo seu clube. Mas o futebol também é um negócio, em níveis industriais, que se move na casa dos bilhões. Quando se consegue fazer o dinheiro jorrar sem afetar o sentimento do torcedor, creio que acontece o casamento ideal que tanto busca o modelo empresarial do futebol atual.
A final única da Libertadores, acredito, atingiu esse objetivo. Ela já é uma realidade, embora ainda encontre resistência, como tudo que é diferente ou mexe nos padrões estabelecidos.
O sábado (30) em Buenos Aires deixou de ser de um jogo. Virou acontecimento. As estimativas são de 45 mil botafoguenses e atleticanos estejam em Buenos Aires. Nos últimos dois dias, aviões saídos do Rio e de Belo Horizonte aterrissaram em solo porteño abarrotados de torcedores. A cidade, é claro, já fervilha de brasileiros, é um dos principais destinos da América do sul. Os donos de restaurantes e de hotéis sorriem à toa com o acréscimo de mais 45 mil turistas nesta semana.
Aqui mesmo, em Porto Alegre, foi possível ver torcedores de Botafogo e Atlético-MG numa escala estratégica para chegar a Buenos Aires por terra, seja indo por Uruguaiana ou mesmo atravessando o Uruguai para pegar o ferryboat em Colônia de Sacramento ou Montevidéu e atravessar o Rio da Prata. Em Uruguaiana, a fila de ônibus com torcedores foi extensa em toda a sexta-feira. Houve quem chegou de ônibus de linha a Uruguaiana e atravessou a fronteira até Paso de los Libres para pegar um outro, argentino, para chegar à Capital dos hermanos.
Assim como a decisão da Sul-Americana, que levou 60 mil torcedores do Racing e outros tantos do Cruzeiro a Assunção, a da Libertadores mostra que a ideia da final única está estabelecida. Nesses seis anos, ajustes foram feitos e correções aplicadas. A principal delas, a definição de colocar a da Libertadores em uma das grandes cidades da América do Sul. Quando o Flamengo conquistou o título em Guayaquil, em 2022, houve dificuldades para deixar a cidade equatoriana, pela pouca oferta de voos.
É verdade que a decisão em uma cidade distante tira de uma grande parte dos torcedores a chance de poder ver o jogo in loco. Há custos elevados, com passagens, hospedagem e afins. Porém, também é fato que as classes menos favorecidas, hoje, já estão alijadas dos estádios dos grandes clubes, restritos aos associados e com preços de ingressos cada vez maiores. Ativações dos clubes envolvidos na final poderia, inclusive, permitir a esse público uma conexão maior com o jogo. Os telões com transmissão nos estádios ou mesmo em fanfests, por exemplo, daria a oportunidade de que uma gama maior de torcedores pudessem se conectar a um jogo que, se fosse no modelo anterior, em ida e volta, estaria restrito à lotação do estádio.
Enfim, são pontos de vista que ainda alimentarão o debate. Embora, as duas finais das competições continentais neste ano confirmem que a final única se consolidou.