Quem vê a festa do Botafogo por chegar à semifinal da Libertadores nem imagina que o trabalho feito fora de campo para isso acontecer. Nada de novo. Afinal, o Brasil vive no "Império do Resultado" e só importa o que acontece nos 90 minutos. O Botafogo não sentia o sabor de estar às portas da final da Libertadores havia 51 anos. O investimento pesado em nomes como Luiz Henrique, Matheus Martins e Thiago Almada ajudou muito. Foram R$ 320 milhões gastos em contratações só neste ano. Mas, podem ter certeza, sem gestão profissional, criação de processos internos e adoção de metodologia de trabalho, seria como despejar dinheiro pela janela.
Há muita discussão em torno das SAFs. Está certo, é preciso debater a fundo esse novo modelo no futebol brasileiro. Até porque a SAF como foi constituída pelo Botafogo não é a única saída. Há várias outras, com distintos perfis e modos de atração de investidores. O que saúdo na ascensão rápida do Botafogo SAF é a profissionalização da gestão. Tanto quanto os resultados de campo, símbolo mais visível do resgate de um clube histórico que estava à beira da falência.
Contas pagas
As dívidas cíveis eram de R$ 440 milhões. Os credores foram chamados. Quem desejava receber imediatamente dava um desconto de 90%. Quem pretendia receber a longo prazo, 40%. Assim, o clube conseguiu quitar imediatamente R$ 130 milhões. Os outros R$ 310 milhões receberão em parcelas. Aplicados os 40% de deságio, a dívida cível ficou em R$ 180 milhões. Para cada credor, foi apresentado o planejamento estratégico e projeção de fluxo de caixa para uma década. Ou seja, a garantia de como seriam pagos.
Revolução administrativa
O departamento financeiro passou por readequação e adotou novos processos. Entre eles, envios semanais do fluxo de caixa projetado e demonstrativo financeiro mensal para os demais clubes da Eagle Football, o Crystal Palace, o Molenbeek e o Lyon. Isso permite que os ingleses, belgas e franceses deem sugestões e ajudem na solução de problemas. Há grande interação entre os clubes da carteira de Textor. Atletas começam a transitar entre eles.
Adryelson foi para a França e voltou. Há pouco, o jovem francês El Arouch veio por empréstimo.
Além desse intercâmbio, Textor investiu pesado na área de scout. Buscou analistas de desempenho e levou do Inter o gerente de mercado Deive Bandeira. Ele é o braço direito de Textor na área e trabalha para a Eagle, não apenas para o Botafogo. Todo esse trabalho de transformação pouco aparece. Mas é por causa dele que o Botafogo encara o Grêmio como líder do Brasileirão e sentindo o gosto da semifinal da Libertadores 51 anos depois. Está longe de ser acaso ou bolso forrado. É gestão e trabalho.