Os presidentes não descartaram. Nem poderiam, diante de tudo o que estamos vivendo. Mas já dá para ter uma esperança de que, ali na frente, quando tivermos um mínimo de normalidade, Inter e Grêmio possam compartilhar o mesmo espaço.
O Beira-Rio estará liberado no final de julho, pelos cálculos mais otimistas. Por que não atuarem ali os dois clubes? O Inter terá o CT de Alvorada para treinar, mas por que, em retribuição da cortesia, não usar por alguns turnos o CT Luiz Carvalho?
A casa de treinos do Grêmio foi bem menos afetada do que o Parque Gigante, cuja liberação vai acontecer, se tudo der certo, só lá por outubro. O Inter perdeu quase tudo lá. Só conseguiu retirar pequenos equipamentos, o que era possível carregar sozinho. Os três campos foram perdidos, foi até a grama de verão.
Nesta terça-feira (21), no lançamento da campanha "Jogando Junto", o Rafael Diverio, repórter de GZH, daqueles perdigueiros, enquadrou na câmera do celular dele os presidentes Guerra e Barcellos. A pergunta era direta: dá para ceder espaços um ao outro? Nenhum deles descartou.
Também não mostraram aquela empolgação de quem vislumbra logo ali na frente que acontecerá. Afinal, o cenário pouco permite prever o que acontecerá na vida da Dupla nos próximos 45 dias. Os presidentes foram diplomáticos. Mas já é um alento. Prometeram seguir na pauta das ações conjuntas, e a troca de casas pode, sim, estar incluída.
Toda perda deixa lições. Não há lado bom em um desastre. Nunca haverá. Mas ele te força a recomeçar. A Dupla, depois desse maio pavoroso, precisou recomeçar de mãos dadas. O Brasileirão só está parado porque Grêmio, Inter e Juventude se uniram. Aliás, o Juventude está dando aula de grandeza e de solidariedade. O presidente Fábio Pizzamiglio, mesmo reconhecendo que parte da sua torcida torce o nariz, avisou que cederá o Alfredo Jaconi quando possível para Grêmio e Inter.
Os líderes têm essa prerrogativa de que usa o presidente Pizzamiglio. Eles indicam o caminho. Foram eleitos para isso. Guerra e Barcellos receberam por vias tortas (bem tortas, aliás) a oportunidade de reconfigurar a relação entre Grêmio e Inter.
A rivalidade vai sempre existir. E precisa, ela é o fundamental para a sobrevivência dos dois clubes da Capital. Mas vamos combinar que ela estava doente antes de a água afogar a rotina que tínhamos. Havia algum tempo, o ar estava saturado. Tudo o que estamos passando nos faz ressignificar muitas certezas, exige um novo olhar. Quem sabe a dor vai fazer perceber que é possível ser só rival em vez de inimigo.
Nos anos 1980 e 1990, quando um dos estádios era interditado pelo STJD, Grêmio e Inter usavam o do rival. Em 2005, quando iniciou a caminhada de volta da Série B, o Grêmio fez dois jogos no Beira-Rio, com portões fechados. Em algum momento, perdeu-se essa capacidade de ser gentil. A oportunidade de resgatar está nas mãos de Guerra e Barcellos. Vai ter quem critique. Mas vai ter bem mais quem apoie.