Vitoria-Gazteiz é a capital do País Basco. É a segunda maior cidade da Comunidade Autônoma de cultura, idioma e sentimentos próprios. Bilbao, claro, é o que vem à mente quando se fala do País Basco. Assim como vem à mente o Athletic e a Real Sociedad quando se fala em futebol. Mas é em Vitoria-Gaztei e no entorno do Alavés que acontece uma revolução que mostra o futuro dos clubes de futebol. Pelo menos aqueles que tentarão sobreviver. Falo aqui de inovação. O jogo, meus caros, já está sendo disputado nesse campo.
O exemplo do Alavés é perfeito para mostrar que apostar em inovação independe de tamanho, divisão e lugar. Vamos lá. Vitoria é uma cidade 258 mil habitantes, circundada por vales e muito verde. O Alavés é um clube que faz da permanência na elite seu campeonato. O máximo que ficou na primeira divisão foram seis temporadas seguidas, até cair em 2021/2022, para voltar na temporada seguinte. Pois é no entorno desse clube pequeno que surge um dos projetos mais arrojados de inovação do futebol espanhol, o Innovaraba, um hub de esporte, ciências médias, educação, entretenimento e tecnologia. Tudo convergindo e buscando geração de receita.
O projeto vem da ousadia de Jose Antonio Querejeta, empresário basco que, em 2011, criou o Baskonia-Alavés Group. Além do Alavés, fazem parte do conglomerado o Baskonia, equipe de basquete quatro vezes campeã espanhola e fundador da Euroliga, o Bakh, um centro esportivo e de entretenimento de quatro hectares em Vitoria, o The Factory, o centro de inovação e novos negócios, a universidade Euneiz e, comprado em 2018, o Istra, clube de futebol da primeira divisão croata.
O Innovaraba é o pacote que conecta todos esses negócios. Numa segunda fase, o projeto prevê uma escola internacional e uma residência para albergar 400 estudantes. Além de um hospital direcionado à medicina esportiva. A escola internacional, primeira naquela região, é estratégica, para acolher os filhos dos cérebros estrangeiros. Assim como o dormitório da universidade é a estrutura para quem vier de longe fazer a faculdade.
O Alavés e o Baskonia estão no centro desse projeto, como um campo de aplicação de tudo que será desenvolvido. O The Factory estará ligado a uma incubadora e aceleradora de start-ups que está sendo instalada. O plano é estimular e atrair empresas e apoiar o desenvolvimento de projetos voltados ao negócio do esporte.
A universidade iniciou neste ano, com 350 alunos. Além dos cursos tradicionais na área da saúde, como fisioterapia e nutrição, oferecerá formação em cibersegurança, desenvolvimento de jogos eletrônicos, produção musical e produção de conteúdo multimídia. O plano é dobrar o número de alunos no próximo ano.
Toda essa estrutura estará concentrada em um mesmo espaço, criando uma pequena cidade que respira inovação.
Há duas semanas, no curso que faço aqui no Johann Cruyff Institute, tivemos um webinar com Aitor Jiménez Villar, diretor de inovação, estratégia e novos negócios do Baskonia Group, e com passagens por Barcelona e Athletic antes de chegar a Vitoria-Gaztei. Aitor é um dos responsáveis por conectar as pontas desse projeto que reúne esporte, entretenimento e inovação. Chamou a atenção um ponto da fala dele. Até a criação do Barça Innovation Hub, da qual participou, o clube apenas comprava a tecnologia para usar. Por exemplo: uma empresa de GPS vendia seu produto, alavancava suas vendas, já que o Barça era um cliente que conferia credibilidade, e, ao final do contrato, cada um seguia seu caminho. Porém, ao clube, restava o quê além o uso daquela tecnologia por um período?
A mudança que pretende agora a Baskonia é que o clube se torne um parceiro e desenvolvedor de inovação e use seu nome e alcance para fazê-la chegar ao mercado. Todos ganham, e o clube mais ainda, porque estará criando ferramentas que atendam às suas demandas. Alguns projetos já saem do forno.
Um deles, em parceria com uma empresa Saturno Labs, desenvolve uma ferramenta que, com uso de inteligência artificial, ajuda a melhorar o rendimento mental dos atletas. O time B do Baskonia serve como laboratório. Outros projetos estão concentrados no metaverso. Um deles fez do Alavés o primeiro clube a ter um jogo dentro do Fortnite. O Alavés Racing Car acontece em um circuito de rua em Vitoria, no qual há espaços generosos para anunciantes colocarem suas marcas. O Baskonia está dentro do Outer Ring, um jogo popular no universo game. Ali, é possível entrar na loja oficial do clube, por exemplo, e comprar a nova camisa. Sem contar que a base de fãs ganha adeptos por todo o mundo.
Aitor trouxe, ainda, projetos de softwares para treinos de paddle, popular aqui na Espanha, e tecnologias para melhorar a experiência dos usuários dos espaços do Bakh, o centro esportivo, que poderão ser replicados para o ginásio do time de basquete e o estádio de futebol. São projetos que mostram só o começo da viagem ao futuro que a pequena Vitoria-Gateiz começa a fazer. Nem ela imaginava que o Alavés poderia crescer tanto sem sair dali. Há muito tempo deixou de ser só futebol.