O Inter recebe, neste domingo (28), uma fração do Manchester City, do NY City, do Melbourne City, do Mumbai City, do City Torque, do Lommel, da Bélgica, do Palermo, da Itália, do Girona, da Espanha, do Troyes, da França, do Yokohama Marinos, do Japão, do Sichuan Jiniu, da China, e até do boliviano Bolívar. O Bahia que pisa no Beira-Rio não vem sozinho. Nunca virá. Ele, agora, é parte de um conglomerado internacional. É a porção brasileira do City Group, a representação mais gritante do que a indústria do futebol definiu como "multi-club ownership". Assim como já são, desde 2022, o Vasco, da 777, o Botafogo, de John Textor, e também o Cruzeiro, de Ronaldo, embora em escala bem menor.
No caso do Bahia, o impacto se dá porque o conceito de multiclubes ganha vulto a partir da entrada do Abu Dhabi Group no mercado do futebol. A compra do Manchester City, em 2008, foi o ponto de partida para uma rede mundial de times. da Austrália ao Uruguai, passando por mercados distintos, como Índia e Bélgica. O que era um projeto de transformar o outro time de Manchester em uma potência enveredou para o City Group, un conglomerado que, com a compra do Bahia, reúne 13 clubes. Em alguns, como minoritário, caso do Yokohama. Em outro como parceiro, caso do Bolívar, em quase todos como um dono que busca conectar o mundo atrás de joias preciosas que joguem futebol.
O City Group desembarcou em Salvador em dezembro e passou a tomar as decisões no Bahia. Mas apenas no último dia 4 é que foi anunciada oficialmente a compra de 90% das ações da SAF. Houve uma entrevista coletiva com ninguém menos do que Ferran Soriano, CEO do City Group e o homem que levantou o Barcelona no começo dos anos 2000, recolocando-o como clube planetário. Aliás, se você ainda não leu "A bola não entra por acaso", corra lá. O livro foi lançado há 10 anos, mas segue atual. Soriano prometeu em Salvador fazer do Bahia o segundo clube do City Group. Descartou tratá-lo como satélite ou mesmo fornecedor de talentos para o Manchester. Defendeu com firmeza a ideia de que os jogadores criados no Bahia ganhem casca e títulos por aqui. Mas não negou: os melhores deles, os extraclasse, claro, atravessarão o oceano.
A torcida, é claro, está em êxtase com a condição de novo rico. Foram feitas 19 contratações. Nada de economia. As cinco maiores contratações do futebol nordestino são todas do Bahia e todas feitas em 2023: Chávez, Del Valle, R$ 18 milhões; Cauly, Ludogorets, R$ 13,8 milhões; Ademir, Atlético-MG, R$ 13 milhões; Diego Rosa, Lommel, R$ 12,8 milhões; Biel, Fluminense, R$ 10,5 milhões. Nem mesmo uma nova camisa, azul celeste, foi contestada. Ela foi lançada em janeiro, como presente aos sócios com anuidade em dia. A estreia aconteceu agora, no Brasileirão. A torcida se agradou e a aderiu, Para reforçar de que não se trata de um entreguismo ao City Group, que tem no azul celeste a sua cor, descobriu-se que, nos anos 1930, houve uma camisa azul celeste.
— Mas todo mundo sabe que é uma alusão ao Grupo City. A camisa pegou, se vê muito na Fonte Nova — conta Rafael Telles, setorista do GE.Globo.
Por enquanto, as ações do City Group estão restritas ao time e à marca já estampada no CT, na região metropolitana de Salvador. O executivo de futebol, Cadu Santoro, que atuou em toda a negociação, trouxe o técnico português Renato Paiva e deu-lhe a missão de implantar o jogo de posição, uma marca de todos os times City. Paiva veio do del Valle, onde o jogo de posição é seguido como bíblia. O Bahia caiu na primeira fase da Copa do Nordeste, apanhou de 5 a 0 do Sport, levou 3 a 0 do Fortaleza e patina no Brasileirão. Porém, chama a atenção sua segurança no cargo.
— Em entrevistas, ele deixa claro que a ideia de jogo não é dele, é do grupo. E fala sempre com convicção no futuro. Depois de cair na Copa do Nordeste, disse que em 2024 levaria o time à disputa do título — conta Rafael.
Fora do campo, o intercâmbio de tecnologia, gestão e processos será conduzido por Raul Aguirre, um profissional de mercado acostumado a conduzir integrações e crescimento de empresas. A ideia do City Group é de que o Bahia seja autossustentável. Para isso, todo o conhecimento do conglomerado será colocado à disposição. Nesta semana, por exemplo, a diretora de saúde do Bahia, Natália Bittencourt, visitou o CT do Manchester, para ver como tudo funciona por lá para permitir a Guardiola montar sua máquina de vitórias. O que só reforça a ideia de que, neste domingo, uma fração do City estará no Beira-Rio.