O episódio envolvendo a cirurgia de Ferreira e toda a polêmica que a precedeu remete a uma questão que vem causando barulho no Grêmio faz algum tempo. O departamento de saúde do clube, mais uma vez, volta a estar no centro de uma discussão. Não há aqui, é bom frisar, qualquer crítica ou dúvida em relação aos profissionais que neste momento estão na linha de frente dele.
Pelo contrário, são de primeira linha, alguns com décadas de serviços prestados. Aliás, se não fossem preparados e gabaritados não estariam lá dentro. O problema, isso, sim, me parece que vai além das pessoas. Passa por processos, por métodos e por rotinas que, pelo que indica o caso Ferreira, precisam ser revisados.
Não é de hoje que o Grêmio se vê no olho do furacão por questões relacionadas a lesões de jogadores. Sejam as causas delas ou o tempo que levam para voltar aos trabalhos. Em setembro de 2018, por exemplo, dois médicos foram demitidos, por desacordo de Renato relacionado às decisões tomadas para a data da realização de artroscopia em Jael e para a volta de André aos treinos.
Pouco mais de um ano depois, em janeiro de 2020, ainda como reflexo da goleada de 5 a 0 para o Flamengo, a direção decidiu trocar profissionais da fisiologia, fisioterapia e nutrição, além da preparação física. A alegação, nos bastidores, era de que os jogadores demoravam a voltar, numa comparação com o Flamengo, na época sob comando de Jorge Jesus, que recuperava jogadores em tempo recorde. Não se levou em conta, na ocasião, métodos diferentes de treinos.
Passado mais um ano, o presidente Romildo Bolzan Júnior aproveitou o fechamento da temporada 2020, depois da perda da Copa do Brasil para o Palmeiras, para fazer um balanço e anunciar a criação de uma "área de Coordenação Científica", englobando nutrição, fisiologia e preparação física. Pouco mais de um ano depois, mesmo que o tema esteja numa questão médica, a área de saúde do clube volta a estar em pauta.
O episódio Ferreira, com a cirurgia para correção de hérnia inguinal, parece ter ganho ponto final. Porém, ele abriu uma oportunidade para o clube mergulhar em seu vestiário e, quem sabe, revisar processos, procedimentos e rotinas. Um caso desses, em um clube deste tamanho, não poderia ter acontecido. Quem dirá se repetir.