O Goiás pode protagonizar o milagre do Brasileirão 2020. A vitória sobre o Coritiba fez o time dormir na noite de quarta para quinta-feira a dois pontos de sair do Z-4. Para quem assumiu o time a 11 pontos do primeiro fora da zona de rebaixamento, a campanha de recuperação alimenta esperanças. O ex-lateral Augusto e o auxiliar Gláuber Ramos, 46 anos, foram buscados no sub-20 para tentar salvar o time.
Trata-se de um caso raro no futebol, de gestão compartilhada no comando do time. Augusto é o técnico, mas é Gláuber, por ter licenças da CBF, quem fica a beira do campo, assina súmula e concede entrevistas. Na semana, é Augusto quem dá a última palavra, precedida de exaustivos debates. No jogo, pela premência das decisões, Gláuber é quem define o que será feito. A sintonia dos dois já dura sete anos. Será assim no Beira-Rio, domingo (10). Nesta quinta-feira (7), já em Porto Alegre, para onde vieram direto de Curitiba, Gláuber conversou com a coluna.
O Goiás vai operar o milagre no Brasileirão, como fez com o Cuca, lá em 2003, saindo do Z-4 e quase garantindo Libertadores?
Assumimos a equipe 11 pontos atrás do primeiro do Z-4. Neste momento que falo contigo, estamos a dois. Foi uma reação muito boa mesmo, surpreende as pessoas. Mas o grupo que ficou, já que saíram alguns jogadores que não tiveram contrato renovado, havia confiança na recuperação. O Goiás apostou nos meninos da base e manteve alguns nomes mais rodados. Tem dado certo.
O olhar para a base tem que peso nesta retomada?
A diretoria apostou na base, até pela promoção minha e do Augusto, comandávamos o sub-20 havia sete anos. A nossa manutenção no time de cima é prova da filosofia. Alguns pensaram que, por essa decisão, o clube tinha jogado a toalha. Mas não, foi uma aposta nos jovens jogadores. Eles estão dando conta do recado. É satisfatório para o clube, em beve haverá bons nomes para serem vendidos e fazerem caixa. Foi uma solução imediata do clube, mas com vistas para o futuro.
Quem seriam alguns jogadores dessa nova geração? Conheço bem o Vinícius, meia-atacante.
O Miguel Figueira, que fez o gol no 1 a 0 no Palmeiras, é um canhoto, meio-campista. Tem o Henrique Lodeiro, volante, pode jogar saindo mais. Ele tem muita qualidade técnica, força. Temos usado o bastante. Posso citar o Daniel de Paula e o Índio, dois meio-campistas. O Índio também joga de atacante, se destacou no Brasileirão Sub-20. Os garotos têm abraçado bem a chance. São gratas surpresas.
O que levou o Goiás a afundar tanto na zona de rebaixamento?
Houve apostas que não deram certo. A diretoria passada (o clube tem novo presidente desde a virada do ano) fez algumas escolhas que não deram certo. Acontece no futebol. Vieram estrangeiros que, no Goiás, não se adaptaram. Houve jogadores experientes que não deram resultado imediato. Ninguém tomou essas decisões para errar, simplesmente, tentaram montar uma equipe forte e não funcionou. A nova diretoria decidiu não renovar com muitos deles e apostar na base. Funcionou, estamos bem vivos.
Qual a importância do Rafael Moura nesse processo todo?
O Rafael, o Fábio Sanchez, o Fernandão, o Ariel Cabral e o Tadeu são figuras importantes no grupo, experientes, líderes. O Rafael é um dos principais, dá uma motivação fantástica aos mais novos. É uma cobrança forte que, ao mesmo tempo, é apoio. Ele passa experiências de vida dele, alerta os garotos, ressalta que, aos 19, 20 anos, eles estão tendo chance de jogar uma Série A. Mais do que isso, de ter sequência. Apesar da situação difícil do clube, não deixa de ser uma oportunidade grande.
Como funciona esse comando duplo teu e do Augusto?
Trabalho há muitos anos com o Augusto. Costumo dizer que comecei como auxiliar técnico dele e virei um técnico auxiliar. Tomamos as decisões juntos. Nos treinos, a gente discute, temos pontos de divergências, mas a palavra final é dele. Na beira do campo, a palavra final é fica comigo. Por vezes, temos uma conversa rápida na beira do campo antes de decidirmos. Mas nem sempre dá tempo de conversar, e eu acabo definindo. Mas estamos juntos há 13 anos porque pensamos parecido. Acaba sempre tendo um consenso. A maioria já fala em Augusto César e Gláuber Ramos no comando. Ficaram os dois (risos). Não tem vaidade do Augusto. Os jogadores entenderam bem esse tipo de comando.
Para encerrar, qual o tamanho desse jogo contra o Inter para essa retomada do Goiás?
Será um jogo muito difícil, fora do nosso campeonato. Estamos nos preparando para uma partida dura no Beira-Rio. O Inter está fora daquilo que estamos disputando. Briga pelo título. A nossa briga é para seguir na elite.