A pressão pela volta do futebol aumentou nesta semana na mesma velocidade com que se expande o coronavírus. E isso é o ponto central da minha preocupação. Em Brasília, o governo federal entrou em cena e viu na bola rolando uma oportunidade de ouro de criar uma cortina de fumaça para as crises que brotam a cada dia da capital do país.
Quanto mais gols, menos espaço para as quedas de braço travadas pelo Planalto. No Rio, a CBF sugeriu o 17 de maio como uma data para a retomada dos Estaduais. No Conselho Nacional de Clubes, os dirigentes fecharam questão e definiram que era hora de voltar, pelo menos, a treinar. São 45 dias de inatividade, com contas se acumulando nas mesas dos presidentes e receitas voando pelas janelas, de onde se enxerga um horizonte cinzento e, mais do que isso, alarmante.
É justa e compreensível a preocupação dos grandes clubes. Alguns, que já viviam na corda bamba antes mesmo da covid-19, correm o sério risco de descer ladeira abaixo e mofar numa divisão menor até que a vida e a economia se restabeleçam. Outros, como a Dupla, que tinham suas vidas planejadas, passarão a viver sem o bálsamo da estabilidade. E isso assusta. Assim como assusta também o atropelo pela volta do futebol.
Sim, é preciso retomar. Mas será que esse é o momento adequado? Grêmio e Inter seguirão protocolos rígidos, testarão jogadores e funcionários. Talvez estendam aos familiares mais próximos ou pessoas de sua convivência direta.
Têm fôlego para isso. Mas e os demais times do Gauchão? Como procederão? Esses não têm condições de arcar com esse custo. Vamos supor que essa barreira seja vencida, e o Gauchão complete suas sete datas e defina seu campeão.
E depois? O Brasileirão e a Copa do Brasil ainda estão distantes de apontar no horizonte. A Libertadores, temo que tenha se perdido nele. Adianta voltar a jogar agora e fica parado depois, só com treinos? O momento, me desculpem os dirigentes, não é de jogar. Mas de se concentrar em vencer um adversário que é comum de todos. E está fora do campo.