Um ranking circulou nas redes sociais, principalmente entre colorados, na quarta-feira (17). Apontava o Inter com uma dívida total R$ 8 milhões menor do que a do Grêmio, conforme números do estudo feito pelo Itaú BBA. A diferença surpreendia pelo momento distinto das finanças dos clubes, com o Grêmio muito próximo da estabilidade, e o Inter, com um caminho a cumprir nesta estrada. A coluna conversou com o consultor do Itaú BBA César Grafietti para entender essa conta e também ter um panorama da saúde financeira da Dupla. Confira.
O que é possível falar da saúde financeira da Dupla?
Vamos começar pelo Grêmio, que está mais organizado. O que se consegue observar é resultado de um processo de longo prazo de controle. É um clube que há algum tempo consegue atuar dentro das possibilidades e entendeu-as. Tem um nível de austeridade e controle bastante grande. O que mais chama a atenção é o fato de pegar o dinheiro de venda de atletas e, em vez de fazer o que qualquer clube normalmente faria, de reinvestir em contratações, o Grêmio resolveu reduzir seu endividamento. Sabia que teria fluxo de caixa apertado porque a TV iria mudar a forma de pagamento das cotas, e se preocupou com isso. É sinal de como se organizou. Não precisa usar o dinheiro para pagar contas do dia a dia. Em vez disso, usa-o para gerar valor.
Por que, mesmo com um cenário econômico favorável do Grêmio, circulam nas redes sociais rankings em cima do estudo do Itaú BBA que mostram uma dívida maior, de R$ 350 milhões, do que a do Inter, de R$ 342 milhões?
O balanço não deixou claro a questão da dívida Arena, e nosso processo não inclui contato com o clube, apenas a análise em cima do balanço. Essa dívida seria de R$ 99 milhões e, depois de publicado o estudo, soube que ela precisa constar em balanço, mas será quitada ao final da parceria de 20 anos com a construtora. Como acontece com o Inter. Se descontados esses R$ 99 milhões relativos à Arena, a dívida do Grêmio é bastante tranquila. Aliás, mesmo que a Arena seja incluída, trata-se de um montante bastante confortável, com nível. O clube entrou em 2019 em situação confortável, com geração de caixa, fluxos controlados e dividas estáveis. É quem mais tem condições de se aproximar do pelotão em que estão Flamengo e Palmeiras, guardadas as devidas diferenças de potencial de crescimento de receita e de perfil mais regional.
E o Inter, como está sua saúde financeira?
O clube vem de 2016 e 2017 muito difíceis, bastante ruins. Em 2018, melhorou, com redução de custos, foram R$ 20 milhões a menos. As receitas cresceram em R$ 30 milhões. O clube gerou caixa, o que não foi feito em anos anteriores. Isso é sinal de um trabalho de ajustes. A situação era tão ruim que vai demorar para o Inter equilibrar-se. Antes, o clube vendia muitos atletas e usava essa receita para fechar os buracos. Mas também contratava muito, a custo alto, incompatível com seu perfil de receita. Essa é uma política equivocada, que exige viver prevendo venda de atletas. Quando não vende, como agora, se enrosca.
Quando o Inter pode atingir um equilíbrio?
O clube tem atuado muito forte no ajuste de custos e trabalha melhor seu nível de receitas. A gestão passou a ser austera. O Inter merece um voto de confiança, está no caminho certo. Demora um pouco para se recuperar, o nível de endividamento foi bastante alto. O Inter, se seguir nessa toada em 2019, terá situação mais confortável em 2020 e, em 2021, atingirá situação parecida com a que o Grêmio se encontra hoje.