Um final de tarde frio como são todos no inverno à beira do Guaíba mudou o destino de Alisson, o flamante campeão da Liga dos Campeões da Europa e, quem sabe, o melhor goleiro do mundo no momento.
Alisson tinha 13 anos, era atarracado e com alguns quilos a mais. Isso fazia com que ele mofasse na reserva da reserva do sub-13 do Inter. A situação contrastava com a do irmão Muriel, já figura das seleções de base, e colocava uma interrogação na cabeça da família: será que valiam a pena todo o esforço do guri e os gastos para ir e voltar de Novo Hamburgo diariamente, que pesavam no orçamento enxuto da família?
Um certo dia, seu José e dona Magali foram juntos ao Beira-Rio dispostos a encontrar respostas para a aflição deles. Assistiram ao treino até o final, discretos como sempre foram e seguem sendo.
À época preparador de goleiros do sub-13, Daniel Pavan recolhia os materiais e as bolas do campo quando viu os pais de Alisson se aproximarem. A conversa foi franca. Eles estavam dispostos a abortar o plano de também fazer do caçula um goleiro. Talvez o melhor para ele seria mesmo estudar e seguir outro rumo na vida.
Foi preciso que Daniel usasse toda a sua psicologia. Ao final, convenceu os dois da maturação tardia de Alisson e de que o filho deles era tecnicamente superior. Menos de dois anos depois, o guri media 1m90cm e já figurava na seleção brasileira sub-15. Passados 13 anos daquela tarde, o ex-gordinho segurava a taça mais cobiçada da Europa, prestes a ser o número 1 dos números 1 do mundo.