Multicampeão, exemplo de competência e coragem, Paulo Paixão, aos 68 anos, parece um guri estreante na profissão no Bahia. Quinta-feira (31), por telefone, ele conversou com a coluna. Confira.
Vi fotos da festa da torcida antes e depois do jogo contra o São Paulo. É uma energia imensa. Como se reflete no time?
A parte de cá do Nordeste já é diferente, o povo busca valorizar a vida de uma forma diferente. Independentemente da condição socioeconômica, você vive. As pessoas encaram a vida com mais simplicidade, mas tentando aproveitar. Claro, tendo a responsabilidade que exige o dia a dia. Eles trabalham como em qualquer lugar, mas têm a mente mais aberta. Aqui, há as classes sociais como em todos os lugares do mundo, mas eles se juntam e confraternizam. As pessoas se entregam ao clube com grande paixão, de forma diferente. O time do coração, com suas conquistas, compensa muitas coisas que, por ventura, na vida dessas pessoas possa faltar.
Em sua longa carreira, tinha vivenciado algo assim?
Já vivi na minha carreira uma gama de situações, mas dessa forma tem sido diferente. Aqui, rapaz, é "Baêa, Baêa, vamos embora, Baêa" o tempo todo. Esses dias, peguei um Uber, e o motorista me disse: "Professor Paixão, a mulher já sabe: recebo o dinheiro e, se tem quatro jogos do Bahia no mês, separo o valor desses quatro ingressos e dou o restante para ela. Se faltar, corro atrás de mais, mas já garanti o meu do ingresso". Em outros lugar deve acontecer assim, mas aqui vivenciamos situações como essa.
Que o senhor Bahia encontrou ao chegar?
O clube é superorganizado, é presidido por funcionários, desde o presidente e o sub – aqui eles chamam de sub e não de vice. Tudo funciona de forma organizada. São três ou quatros profissionais para cada setor. No futebol, com o comando do Roger, o time tem a organização dele. E a gente vem com aquele tempo de vida na bola. Juntamos esses dois lados e estamos atingindo as vitórias. É claro, tem a postura boa dos jogadores, que estão acreditando no trabalho, no projeto do Roger. Está dando uma boa liga. Estamos muito felizes. Vale ressaltar, é claro, que pegamos uma base muito boa deixada pelo Enderson (Moreira).
O time já está concentrado?
Na semana que vem, como será sem jogos no meio, daremos dois dias de folga. Estamos dando essa enforcada agora, para fechar esta semana da melhor forma possível. Também levando em conta o respeito ao adversário que virá, que é o Grêmio. Temos de de entender que o Grêmio ganhou tudo nos últimos anos. Isso nos faz respeitar mais ainda.
O senhor volta a trabalhar depois de um longo período. Como está sendo esse retorno? A energia baiana casa bem com o momento, não?
Quando o Roger me ligou, passou que o clube estava organizado e disse: "Paixão, me encantou tudo o que está acontecendo lá, gostaria que você fizesse parte desse projeto". Claro que topei, ainda mais com o Roger. A experiência está sendo muito boa, muito legal. Há um projeto no clube, este presidente que está aqui tem mais 80% do conselho, que o colocou lá no comando. Estão fazendo um trabalho muito bom, inclusive fora de campo com a integração de todas as comunidades e grupos da sociedade, sem barreiras.
Percebo que o senhor está a mil, muito motivado.
Para mim é gratificante estar aqui. Só a idade que chegou. Mas a minha cabeça esta a mil. Estou muito feliz com essa valorização que o Roger está me dando. Me sinto realizado de poder fazer o que sempre fiz, de gerenciar vestiário, de organizar o dia a dia. Tenho a esperança de fechar bem esse trabalho. Já vencemos o Baiano, avançamos na Copa do Brasil e estamos encarando o Brasileirão.