Há um recado claro nesta ausência de um brasileiro entre os 10 finalistas do prêmio The Best, da Fifa, que elege o melhor jogador do mundo na temporada. Evidente que Neymar teria todas as condições de figurar na lista. Mas a cirurgia que o tirou de cena por quatro meses e os rótulos com os quais saiu da Copa da Rússia o alijaram da disputa.
Em outros tempos, contaríamos com outros nomes capazes de figurar no topo. Formamos muito, mas eles saem cedo demais, a preços baixos, e vemos nossos clubes entrarem em um círculo cruel. A coluna foi ouvir Eduardo Tega, ex-CEO da Universidade do Futebol e consultor de desenvolvimento do futebol sobre o tema. Confira.
Qual o alerta enviado pela nossa ausência entre os finalistas do prêmio da Fifa?
O Kaká foi o último jogador indicado que ganhou como melhor do mundo. São indicações claras, um grande alerta da baixa qualidade do futebol brasileiro. As últimas indicações foram do Neymar e de dois defensores, Thiago Silva e Daniel Alves. Temos jogadores alimentado os melhores clubes do mundo, mas essa indicação ao prêmio é um parâmetro muito considerável para pensar que tipo de futebol estamos praticando no país. Para mim, é um futebol completamente diferente daquele jogado pela Seleção.
O Coutinho poderia figurar nesta lista?
Coutinho, para mim, fez melhor Copa do que o Neymar, talvez tenha sido mais regular. Mas o Neymar é um fenômeno, é o cara que mais chegará perto dos recordes do Pelé. E baterá muitos deles. Tínhamos também dois grandes laterais perto da Copa, com o Marcelo mais em evidência. Mas, se fosse escolher um para estar entre os 10, seria o Coutinho. O Neymar saiu da Copa muito marcado.
Os clubes formam, mas esses jogadores saem muito cedo. Não estaria aí um dos problemas do futebol brasileiro?
A grande maioria dos nossos jogadores de ponta são formados lá fora, saem jovens daqui. É raro um Neymar, que estava em altíssimo nível com 18, 19 anos. A maioria fica pronta com 23, 24 anos. E são esses os atletas que os clubes não conseguem manter, por não ter caixa. É um paradoxo. O clube não tem caixa e não consegue manter seus talentos, mas se contentam em vê-los na Europa fazendo sucesso e com as migalhas que geram nas vendas, pelo mecanismo de solidariedade. Pegam esse dinheiro e compram, pagando caro, jogadores em fim de carreira. É um vicioso dos mais cruéis.
Nosso trabalho de formação está correto?
O Brasil é o maior exportador, vende mais de mil atletas por ano, mas mais da metade volta ao país. Numa análise per capita, o Brasil fica na 13ª posição. Uruguai, com 3,4 milhões de habitantes, e Croácia, com 4,1 milhões, estão em primeiro e segundo. Há muito potencial a ser aproveitado no Brasil. Não temos um processo, um norte, em que todos os clubes trabalhem numa mesma linha, com métricas conduzidas pela CBF. Em exemplo rápido, temos federações pelo mundo que fizeram isso e colhem resultados: Alemanha, Bélgica, Inglaterra. Hoje, aqui, temos excelentes trabalhos em alguns clubes, mas cada um à sua forma. Falta uma integração, com trocas de conhecimento entre os profissionais. Nada parte da entidade máxima do futebol. Assim, corremos atrás do tempo.
O fato de sermos um país continental não dificulta esse trabalho?
Hoje, com tecnologia, vontade, conhecimetno e, claro, investimento, isso não pode ser mais uma desculpa. A gente tem de fazer muito mais do que fez. A Alemanha, por exemplo, monitora 650 mil jogadores, sabe onde estão cada um, desde aquele menino que começa no estágio mais baixo, no campo ao lado da escola dele em que treina com professor qualificado pela federação, até o atleta sub-20 de um grande clube. O ponto principal é que se pode pensar em todos os mecanismos de proteção ao clube, mas se ele não tiver dinheiro no caixa, venderá seu talento na primeira oferta.