O Jael de 1996 se levantou da cadeira em Conceição do Castelo, no sul do Espírito Santo, e se viu dentro de campo no lance do gol de Cícero sobre o Lanús. Voltou 21 anos no tempo e se sentiu dentro da Arena que ainda não conhece.
O Jael de 1996, para quem não lembra ou era muito jovem na época, trata-se de Zé Afonso, o centroavante buscado por Luiz Carlos Silva Martins, o Cacalo, no Linhares-ES e que entrou para a história gremista ao participar do gol que deu o bi brasileiro ao Grêmio em 1996, marcado por Ailton, um meio-campista técnico e versátil, assim como Cícero. Aliás, Cícero e Zé Afonso são amigos. Oriundos de cidades vizinhas, se encontram sempre nas férias para jogos beneficentes.
Aos 46 anos, completados no último dia 7, Zé Afonso, pasmem, ainda está em atividade. Mais por diversão do que por necessidade, é verdade. No primeiro semestre, tentou ajudar o Rio Branco, de Venda Nova do Imigrante, a subir para a primeira divisão capixaba. O clube foi onde começou, e ele é ídolo lá.
Para 2018, estuda um convite do ex-meia gremista Palhinha para jogar pelo Boston City, clube de uma liga menor norte-americana. Palhinha é técnico e sócio do clube, bancado por um mineiro de Manhuaçu radicado há 20 anos nos EUA, onde administra uma cadeia de restaurantes e investe na construção civil.
Por telefone, Zé Afonso conversou com a coluna. Confira.
Você viu o jogo contra o Lanús?
Lógico, vou perder um jogo do Grêmio? Sofri muito, roí minhas unhas. Moço, que desespero. E o juizão ainda sacaneia a gente. Lá vai ser muito difícil. O Grêmio jogou bem, mas não tudo o que podia.
O lance do Jael lembrou muito o seu de 1996, contra a Portuguesa. Até pelas trajetórias também serem parecidas.
Eu estava comentando com a minha mulher, a Joana, depois do jogo. Aquele lance do Jael tem muita semelhança. Ele entrou durante o jogo, como eu, em momento difícil. No gol, ele escorou. Foi muito parecido com o da final do Brasileirão. Tomara que possa ser o gol título, para ficar marcado também.
Estava comentando com a minha mulher, depois do jogo. Aquele lance do Jael tem muita semelhança. Ele entrou durante o jogo, como eu, em momento difícil. No gol, ele escorou. Foi muito parecido com o da final do Brasileirão. Tomara que possa ser o gol título, para ficar marcado também.
Você costuma sempre acompanhar o Grêmio?
Joguei em 22 clubes profissionais, mas o Grêmio ficou marcado na minha vida como o momento mais alto da carreira. Virei torcedor do clube. A gente sofre, alegra-se, fica triste. Aprendi a gostar, não perco jogo do Grêmio. Temos um grupo de WhatsApp com os jogadores de 1996. O que impressiona é que todos viraram torcedores fanáticos do clube. Às vezes, a gente dá uma corneteada também (risos).
Você veio assistir a jogos aqui em Porto Alegre?
Não tive oportunidade de conhecer a Arena. Meu sofrimento é esse. No ano passado, iria acontecer um jogo festivo pelos 20 anos do Brasileirão, mas acabou cancelado (por causa da tragédia da Chapecoense). Nem havia clima para comemorar nada. Na primeira oportunidade, quero conhecer a Arena.
Você está jogando ainda?
O time em que comecei, o Rio Branco, de Venda Nova do Imigrante, me chamou e fui lá ajudar a subir da Segunda Divisão. Ainda dá para jogar um pouquinho. Estou com 94 quilos, meu peso no Grêmio era 90. Como minha saladinha, corro todos os dias e parei de fazer aquelas loucuras dos tempos em que morava aí no Sul. Parei de beber faz 10 anos. O Arce, no grupo de WhatsApp, brinca, diz que estou melhor agora do que nos tempos de Grêmio.
Você parou de beber?
Hoje sou da Assembleia de Deus. Sabe que, nas minhas orações, pergunto a Deus: "Por que não me mudaste antes". Mas sei que tudo tem seu tempo na vida. Agora estou calmo, tranquilo. Casei, na verdade estou no terceiro casamento (risos), e tenho três filhas. A Yara está com 22 anos, a Alana tem 14, é jogadora de handebol, e, agora, tem a "rainha" Esther, de três anos.
Pois é, aqui em Porto Alegre, sua vida foi um pouco intensa naquele final dos anos 1990.
Fiquei quase quatro anos aí. Marcou uma parte da minha vida, sou apaixonado pelo sul do país, o gaúcho tem um diferencial. Sempre fui bem tratado em Porto Alegre. tenho muita amizade com as pessoas daí. Às vezes, começo a ler os recortes de Zero Hora que guardei e me emociono. Não acredito que vesti uma camisa tão importante. Sabe o que acontece? Quando está em time grande, você não dá o valor e só percebe o tamanho dele depois que sai. Mas me sinto honrado de ter jogado no Grêmio e, principalmente, porque há milhares de jogadores, porém, se conta nos dedos quem foi campeão brasileiro.
O que você faz hoje?
Agora, estou apenas administrando o dinheiro que ganhei por causa do Grêmio (risos). Até o ano passado, era secretário de Esportes da minha cidade. Neste semestre, estou meio parado. Tenho um sítio aqui, planto café. Antes plantava eucalipto, mas limpei a área e estou preparando pasto para colocar umas cabeças de gado lá. E curto uma paixão minha, que é andar a cavalo. Tenho alguns animais. Acabei de comprar um, pampa manga larga.