Antes da enchente, já era difícil. Agora, virou um martírio. Falo do deslocamento entre a capital e a região metropolitana pelo transporte público. Com a interrupção parcial do trajeto feito diariamente pela Trensurb, é preciso fazer uma cansativa baldeação com ônibus entre Canoas e Porto Alegre. Nesta semana, foram incluídas duas novas paradas entre a estação Mathias Velho e a estação Mercado. Mesmo assim, os passageiros seguem enfrentando muitas dificuldades, com longas filas para embarcar. Não se trata apenas de um serviço ineficiente. É algo que causa sofrimento a uma parcela considerável da população.
A situação potencializa um problema que precisa ser enfrentado com mais envolvimento de todos. Mesmo quando houver o retorno do funcionamento pleno dos trens, o sistema de transporte metropolitano tem que ser revisto e aperfeiçoado. É uma verdadeira confusão de linhas. Para o pagamento da passagem, por exemplo, há diferentes modelos de bilhetagem. Sem mencionar os veículos velhos e inseguros e a falta de corredores exclusivos entre as cidades, forçando o passageiro a ficar mais de uma hora dentro de um ônibus.
A enchente nos trouxe muitos ensinamentos. Um deles é entendermos que não podemos pensar as cidades da região metropolitana isoladamente. Vale para a contenção de cheias com um sistema de proteção integrado, mas vale também para o transporte das pessoas. É um serviço essencial e, por isso, requer a criação de um órgão gestor para revisar todo o modelo de operação. Não basta dizer que vai melhorar, é preciso explicar como vai fazer. As eleições estão aí e ninguém é obrigado a se candidatar, mas, ao se colocar nessa posição, precisa ser cobrado. Quais países podem nos inspirar? Ouçam os estudiosos, temos vários. Quem se prontifica a puxar uma mobilização séria sobre isso?
Para organizar essa colcha de retalhos, alguém precisa assumir o protagonismo na reformulação do sistema metropolitano. A Metroplan seria caminho mais lógico, mas o órgão foi enfraquecido nos últimos anos. Todas as esferas de governo precisam assumir responsabilidades. Nas campanhas eleitorais, o tema do transporte público aparece com razoável destaque, mas sempre é visto isoladamente, em cada município, e com pouca profundidade. Precisamos desatar esse nó. Algum candidato se habilita?