Quem passou os verões nas praias gaúchas até a década de 1990 vai lembrar da dificuldade de comunicação com familiares que ficavam longe. Eu até poderia recordar do tempo dos recados pelas emissoras de rádio, histórias que o Lauro Quadros adora contar, mas ficarei na Era dos Orelhões. Em 1973, os primeiros telefones públicos foram instalados pela Companhia Riograndense de Telecomunicações (CRT) em Porto Alegre e Caxias do Sul.
Os orelhões também passariam a fazer parte da paisagem das praias. No verão de 1981, o número de balneários com telefone no litoral aumentou de 10 para 18. A meta do governo estadual era chegar a 25 e reduzir para no máximo sete quilômetros a distância entre um aparelho e outro. Nas praias de Torres, Capão da Canoa e Tramandaí, foram instalados orelhões naquela temporada. Em Arroio do Sal, por exemplo, só em 1985 chegaram os primeiros dois orelhões e a central telefônica da CRT.
A gurizada que recebe nos aplicativos fotos e vídeos dos amigos na praia nem imagina o que eram as filas nos orelhões e nas centrais telefônicas. As ligações faziam parte de um ritual nas nossas semanas de férias. Não era todo dia o contato. Previamente, já ficava acertado o horário para os telefonemas. Se o familiar só estaria em casa de noite, de nada adiantaria tentar durante o dia. Portanto, normalmente, nossas ligações eram depois que anoitecia.
Em um programa praiano na nossa família, mãe, tia e a criançada caminhavam até o orelhão. Nas ligações, uma ou duas vezes por semana, era possível contar como estavam as coisas, perguntar se estava tudo bem, saber quando o pai retornaria à praia e fazer algumas encomendas. No ritmo da conversa, o aparelho engolia as fichas metálicas redondas, com ranhuras.
Antes dos cartões, as fichinhas da CRT faziam parte dos itens obrigatórios na carteira ou na bolsa. Claro, se não quiséssemos fazer a ligação a cobrar. Se um familiar estava na praia e a musiquinha característica começasse a tocar, a ordem era atender. A cobrança viria depois na conta do telefone. Em horários mais movimentados, à noite, era normal esperar na fila para fazer a ligação. A tarifa era mais barata no horário. Na fila, todos ouviam as conversas dos outros.
Os celulares chegaram ao litoral no veraneio 1992/1993, mas demoraram alguns anos para desbancar os telefones públicos como principal conexão para contar sobre os dias de férias.
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