Muito antes do surgimento das plataformas digitais, os brasileiros já faziam cursos sem sair de casa. Aliás, até precisavam ir para a rua, mas em direção aos correios. Por carta, os futuros alunos comunicavam o interesse nas aulas. O material chegava semanas ou meses depois pelas mãos do carteiro. A Educação a Distância (EAD) era por correspondência.
Os cursos por correspondência foram muito populares. Lembro das propagandas nos gibis. Nos jornais e revistas, os anúncios das escolas traziam um cupom, que deveria ser preenchido, recortado e remetido em um envelope de carta. Localizei notas em jornais do início do século 20 com oferta de cursos por correspondência. Em casa, chegava material para estudar engenharia ou medicina prática. Na década de 1920, era possível fazer curso de alfaiate ou para carreira bancária, por exemplo.
A oferta cresceu na década de 1940, especialmente pela criação de duas instituições de ensino a distância em São Paulo. Em 1939, o imigrante húngaro Nicolás Goldberger fundou o Instituto Radiotécnico Monitor, considerada a primeira escola de EAD do Brasil. O primeiro curso de eletrônica foi um sucesso e, logo, Goldberger expandiu o negócio para outras formações.
O Instituto Universal Brasileiro foi criado em 1941. Em propaganda naquele ano, ofereceu o curso de contabilidade, com possibilidade de aprender em casa a "lucrativa profissão de guarda-livros". Pelo "moderno método", o aluno estaria habilitado em 25 semanas.
Em um modelo de marketing que continuaria nas décadas seguintes, o interessado deveria enviar o cupom do anúncio preenchido para São Paulo e receberia em casa um folheto com as instruções para comprar o curso. O pagamento ao Instituto Universal Brasileiro era feito em "suavíssimas mensalidades". Em um curso de costura, cada aluna recebia figurinos da "última moda" e cem cartões de visita. Nas propagandas, eram comuns fotos e relatos de alunos satisfeitos com os resultados dos cursos por correspondência.
Além de diversos cursos técnicos e aulas de idiomas, também era possível concluir a formação escolar, como supletivo e ginasial. Gradualmente a partir da década de 1990, os cursos por correspondências perderam espaço com as aulas on-line. Como nas experiências de EAD digital, existem ex-alunos que garantem que muito apreenderam neste método por correspondência e outros que avaliam que jogaram dinheiro fora.
Colabore com sugestões sobre curiosidades históricas, imagens, livros e pesquisas pelo e-mail da coluna (leandro.staudt@rdgaucha.com.br)