Querido Éverton,
Soube que você havia partido no começo da manhã da última quarta-feira, quando repórteres tentavam explicar a barbárie ocorrida no bairro Ouro Branco, em Novo Hamburgo. A primeira reportagem que li dizia que o atirador seguia dentro da residência, por volta de 7h, e contava que você havia sido atingido enquanto atendia a um chamado de um senhor aposentado, que reclamou estar sendo intimidado pelo filho. Esse senhor também morreu. Fiquei com o coração na mão.
Talvez você tenha assumido o posto munido deste sonho, de transformar o mundo em que vivemos em um lugar melhor
Não demorou para que eu soubesse que você havia recém se tornado pai. Aquela informação me pegou de forma profunda. Meu filho nasceu em 2023 e toda vez que penso em pais e mães que acabaram de nascer, tenho vontade de abraçá-los e dizer que um mundo de descobertas está por se abrir. Eu queria poder lhe dizer que você vai se ver diante um amor visceral, vai vibrar quando ouvir “papai” pela primeira vez e que vai ser mágico quando seu bebê começar a interagir com você e com a sua esposa.
Aliás, Éverton, eu preciso lhe contar que imediatamente pensei nela. Pensei na família que vocês se propuseram a construir, na felicidade de vocês com o nascimento do bebê. Soube pela reportagem de ZH que ser policial era o seu sonho e fiquei imaginando o quão orgulhosa sua família ficava em vê-lo como agente de uma corporação que protege nossa sociedade.
Talvez tenha sido essa justamente uma das motivações para que você prestasse concurso para a Brigada Militar. Talvez você tenha assumido o posto munido deste sonho, de transformar o mundo em que vivemos em um lugar melhor.
Mas aquela madrugada veio.
Sua partida precoce, Éverton, entristeceu seus amigos e familiares, a quem estendo meu profundo abraço. Mas doeu em todos nós, que assim como você, estamos sempre prontos para ajudar quem está ao nosso redor.
Na quinta-feira, fomos novamente impactados com a partida do seu colega de BM Rodrigo. Vocês tinham a mesma idade. Aos familiares, reforço meu abraço e meu profundo pesar. Peço desculpas, porque temos falhado enquanto sociedade, com tamanha violência. E deixo registrado para que saibam, você e o Rodrigo, que, apesar do luto, seguiremos na direção deste ideal de justiça e com olhar atento para ajudar o próximo, da mesma forma como vocês agiram. Que haja paz.