Eu costumo dizer que duas situações, em especial, são capazes de provocar uma queda de pressão instantânea da mãe: receber ligação da escola e ouvir a dolorida frase "a máquina de lavar estragou". A primeira, quem é mãe sabe, nunca virá acompanhada de uma mensagem feliz. Pode ser febre, cocô mole ou "seu filho caiu". A segunda, bem, você deve imaginar. Uma casa com dois adultos e uma criança pequena sem máquina de lavar é o prenúncio do apocalipse.
Pois aqui em casa, no início de outubro, as duas frases surgiram quase juntas.
A máquina estragada foi resolvida rapidamente pelo André, indicação da minha amiga Julia Etchepare que, assim como eu, tem um bebê de quase dois anos em casa. A Júlia ainda é mãe do Antônio, de 10, e de muitos cachorros e gatos, o que só fez aumentar a minha admiração por ela. Somos tão parecidas que saímos as duas, minutos após o parto, a caminhar pela famosa "sala do vidro" do hospital Moinhos de Vento, para o desespero da equipe médica e espanto dos familiares. É nessa sala que as mães costumam chegar deitadas na maca ou em uma cadeira de rodas, diferentemente do que eu e a Júlia fizemos.
Mas quero falar sobre a ligação da escola. Era terça-feira, eu já havia almoçado, quando o telefone tocou. Meu bebê havia sido premiado com uma suspeita de contaminação por um vírus, algo apavorante para uma mãe estreante, mas corriqueiro para quem sabe como se dá a convivência com outras crianças. O fato é que, em função do bicho viral, precisaríamos manter o Gabi em casa por uma semana. Como fazer? Não temos babá, como boa parte das famílias. Era uma mãe desesperada, com o pai da criança em viagem para outro país.
Ocorre que Gabriel, meu filho, dispõe de um privilégio que me fez respirar, por um instante, e imaginar que havia uma saída possível: ter os avós por perto. Era a certeza de que ele seria acolhido, com afeto, responsabilidade e uma pitada extra de diversão. Sim, vovós e vovôs formam a melhor rede de apoio do mundo! Nos primeiros dias, vovó Nara e vovô Oreste foram as estrelas do nosso time. No final de semana, ganhamos o reforço de vovó Lúcia e vovô Erli. Um privilégio, eu sei. E eles entregaram tudo para que o pequeno príncipe se sentisse em casa.
Teve bolo de banana sem açúcar, arroz e feijão (prato preferido do Gabi!) feitinhos na hora, um caminhão com cordinha milimetricamente ajustada para o nenê puxar e até uma ida às pressas ao mercado para garantir que não faltasse a batatinha assada que ele chama de "tatata". Isso sem contar que os objetos usados na fisioterapia do vovô viraram diversão garantida! O saldo final não poderia ser diferente: um vínculo profundo de amor e memórias construídas para a vida. Algo que não se explica, se sente. Riqueza, no sentido mais profundo da palavra.
Convívio
Aliás, é consenso entre especialistas que a convivência entre avós e netos traz benefícios tanto para os pequenos, quanto para os mais velhos. Minha amiga Larissa Roso, jornalista que se dedica a contar histórias nesta direção, é uma entusiasta desse encontro de gerações. Ela afirma que a relação próxima, viva e afetuosa entre avós e netos é um grande suporte emocional para os idosos, em uma fase da vida em que a solidão não raro se apresenta.
Além do conforto emocional, há outros ganhos verificados por médicos a partir dessa proximidade: melhora da saúde mental, uma sensação gratificante de continuidade da vida, além da convivência e do aprendizado com outras gerações e a participação construtiva na educação de crianças e adolescentes.