Não são exatamente o STF, o voto impresso ou a rixa com os governadores os assuntos que mais preocupam o presidente Jair Bolsonaro no momento. De olho na disputa à reeleição em 2022, há pelo menos dois temas que tiram o sono do capitão: a crise hídrica e seus reflexos na conta de luz dos brasileiros e, como parte deste problema, o impacto na inflação ascendente — que vem corroendo o poder de compra da população.
Vamos aos pontos.
Primeiro, o nível dos reservatórios que abastecem as usinas hidrelétricas no país está baixíssimo. E o que você tem a ver com isso? Tudo. Com a ausência de chuvas, há escassez nos reservatórios e com isso o governo precisa buscar fontes alternativas de energia (como as termelétricas, por exemplo), absolutamente mais caras. Pense em quanto você gastou de luz no mês passado. É sobre isso.
Agora imagine uma indústria que precisa consumir muito mais energia do que você. E olha que por causa da pandemia o nível da atividade industrial ainda não voltou aos bons tempos. Pense em quanto subirá o custo de produção para este segmento.
Como se não bastasse, diante de uma situação de risco pelo baixo volume nos reservatórios, há quem diga que o governo vai precisar pensar em alternativas não usuais. Seja através da cobrança mais cara de energia (que força o consumidor a economizar), ou mesmo através de medidas de racionamento, que especialistas ainda acreditam tenha chances baixas de acontecer.
FHC esta aí para provar que as medidas são altamente impopulares.
Além disso, a alta na conta de luz puxa a inflação que hoje já registra índices preocupantes, acima da meta estabelecida pelo governo. Com a inflação em alta - além do aumento na conta de luz, tem a gasolina, o preço do gás, dos alimentos - o remédio mais conhecido é o aumento na taxa de juros.
Ocorre que a elevação da Selic tem efeitos diretos (e negativos) sobre crescimento econômico que Bolsonaro gostaria de ostentar como trunfo para ser reconduzido ao Palácio em outubro do ano que vem.
Isso sem contar que um aumento nos preços atinge, necessariamente, a popularidade de quem quer que seja o governante. Não à toa, o presidente pediu que o reajuste na taxa extra cobrada pela energia seja aplicado somente após as manifestações do 7 de setembro.
Os abacaxis estão postos e Bolsonaro necessariamente precisará descascá-los. E sublinhe-se: a variante delta está aí para mostrar que, infelizmente, a pandemia ainda não acabou.