Recebi uma dezena de mensagens após as primeiras informações que surgiram nas redes sociais de que o governador Eduardo Leite (PSDB) havia contado, em entrevista ao programa Conversa com Bial, sobre sua orientação sexual. “Sou um governador gay. E tenho orgulho disso”, disse ele. Foi a primeira vez que Eduardo Leite assumiu publicamente sua homossexualidade.
Mas o que eu leitor tenho a ver com isso? A coluna decidiu, então, se debruçar sobre esse ponto.
Em um mundo ideal, plural e com respeito acima de tudo, a orientação sexual de cada um não deveria ser motivo de questionamento, curiosidade ou polêmica.
— A orientação sexual de alguém toca na vida dela — lembrou o governador nesta manhã em entrevista ao Gaúcha Atualidade.
E então por que isso é importante?
Porque, infelizmente, não vivemos neste mundo ideal. Vivemos em uma sociedade que ainda trata com preconceito e, por vezes, selvageria quem assume sua orientação sexual tal como o governador. Basta lembrar a campanha eleitoral de 2018, quando o mesmo Eduardo Leite foi atacado por adversários em fotos com o irmão dele, que o desqualificavam por ser homossexual. À época, a coluna se posicionou contra o nível rasteiro do debate.
Mas é preciso ir além. O Brasil é um país que ostenta índices vergonhosos relacionados à LGBTfobia. Em reportagem recente, o portal Uol revelou que o Brasil se mantém na liderança do ranking de países que mais matam pessoas trans no mundo. Em 2020, foram 175 travestis e mulheres transexuais assassinadas. A alta é de 41% em relação ao ano anterior, quando foram registrados 124 homicídios.
Daí a importância da fala, resumida em dois aspectos, pela consultora em diversidade Nathalia Elias à coluna: representatividade e naturalização.
— Representatividade por se tratar de um governador gay em um Estado ainda muito conservador. E naturalização de pessoas LGBTQIA+ em espaços de poder. Isso ajuda a desconstruir o imaginário coletivo que ainda coloca pessoas LGBTQIA+ à margem e mostra que espaços de poder também os pertencem — afirmou.
Neste aspecto a fala de Leite, tal como a do ator Paulo Gustavo, a do apresentador da TV Globo Marcelo Cosme e de tantos outros e outras que assim se assumiram, como a apresentadora Fernanda Gentil, a cantora Daniela Mercury (somente para citar alguns), serve como um conforto e apoio para quem ainda não conseguiu viver e admitir verdadeiramente sua própria sexualidade.
Ao mesmo tempo em que impulsiona o debate sobre a importância de naturalizarmos algo que deveria dizer respeito tão somente a cada um de nós, na esfera privada.
Representatividade importa. E, sob esta perspectiva, um passo muito importante foi dado no dia de ontem. Avançamos.