As manifestações do último domingo trouxeram um elemento novo para a arena política, que já projeta o cenário de 2022, ano de eleição presidencial: o povo nas ruas contra o presidente. As pessoas compareceram aos protestos em número grande, é verdade, mas ainda bem distante das marchas que levaram ao impeachment de Dilma Rousseff (PT), em 2016.
A novidade está justamente na presença de pessoas contrárias a Jair Bolsonaro espalhadas por diferentes cidades, já que até então a prudência — correta — por causa da pandemia de se sobrepunha ao ímpeto de bradar contra o governo federal.
Antes de mais nada é preciso dizer: a pandemia não acabou. Ao contrário, indicadores em alta trazem preocupação quanto à novas ondas, em especial na Região Sul. Os especialistas dizem que a última onda não chegou a ser sucedida por uma queda brusca nos números (ocupação de leitos clínicos e UTIs), que acabaram se estabilizando ainda muito altos. Assim, qualquer nova alteração já os coloca em situação de alto risco novamente.
Dito isto, é imperativo entender que não há aglomeração de direita ou de esquerda. O vírus não escolhe campo ideológico para se espalhar.
Voltemos ao tema das manifestações. O elemento novo acendeu um alerta no Palácio do Planalto, já que as ruas até então (durante a pandemia) estavam exclusivamente verde e amarelas. Não porque não houvesse críticos à gestão, mas por que grupos contrários a Bolsonaro privilegiavam o cuidado em não promover aglomerações, antes de promoverem atos políticos. Há quem diga que as movimentações de domingo teriam sido exponencialmente maiores, caso a pandemia já tivesse arrefecido no Brasil.
O fato é que as próximas semanas serão acompanhadas por diferentes players da corrida presidencial. Há quem imagine que o desgaste do governo está apenas começando (vide exemplos recentes de Chile e Colômbia). Mas os que apostam que há um oceano de distância entre junho de 2021 e outubro de 2022.
De fato, pesa a favor de Bolsonaro os meses que o separam da campanha à reeleição no ano que vem, já que até lá é provável que a vacinação avance, em especial no segundo semestre, e a economia comece a se recuperar — o resultado do PIB divulgado hoje (+1,2% no primeiro trimestre) mostra que o país voltou ao patamar do quarto trimestre de 2019, período pré-pandemia. Porém, nada é certo.
Ao mesmo tempo, pesam contra ele: a CPI da Covid e a recusa de compra de vacinas, o número assustador de mortes por covid-19 que se aproxima de 500 mil no Brasil, além da possibilidade de os movimentos contra ele crescerem — isso sem contar as notícias nada alvissareiras sobre possível crise de abastecimento de energia.
É cedo para dizer. Mas convém ficar de olhos abertos.