A popularidade crescente do presidente Jair Bolsonaro, mesmo após uma atuação desastrada enquanto gestor na pandemia, chamou a atenção de analistas políticos nos últimos meses. Em que pese o não uso da máscara, o desdenho sobre a doença ("é uma gripezinha") e até mesmo a demissão do personagem símbolo anti-corrupção Sergio Moro, o chefe do Executivo segue gozando de prestígio em especial entre as camadas mais populares.
Alguns creditaram os índices à concessão do auxílio emergencial, o que explicaria a confiança — em especial dos mais vulneráveis — no governo do atual presidente. Ocorre que em política as águas costumam se movimentar de maneira nem sempre lógica e qual não foi a surpresa quando os candidatos alinhados a Bolsonaro nas capitais não decolaram nas eleições municipais de 2020, segundo as pesquisas de intenção de voto. Assim ocorre em São Paulo e no Rio de Janeiro.
No Rio de Janeiro, para citar um exemplo, o atual prefeito Marcelo Crivella tem feito de tudo para expor sua proximidade com o capitão. Mesmo assim corre o risco de ficar de fora no segundo turno. Como observou Bernardo Mello Franco, em O Globo, Bolsonaro aparece tanto na propaganda de Crivella que "um eleitor mais distraído pode pensar que o candidato é ele, e não o bispo".
Mas por que, então, essa popularidade não se transfere aos pupilos?
É difícil cravar uma única razão, mas hipóteses surgem no cenário de análises:
1. Eleição municipal não é sobre direita x esquerda
Há quem aposte que a eleição municipal diz muito mais sobre as realidades locais: asfaltamento de ruas, iluminação, mobilidade urbana, por exemplo. Uma eleição presidencial, mais ampla, teria mais espaço para essa dualidade.
2. Bolsonaro teria perdido força nos grandes centros e na classe média
Há leituras que apontam que a aprovação do Bolsonaro saiu da classe média (e dos grandes centros) e hoje está concentrada em classes mais populares, em especial por conta da concessão do auxílio emergencial, que se encerra em dezembro. Nesta perspectiva, a população também se identifica com a maneira "simples" com a qual o presidente se expressa. "E, para a classe média que ainda o apoia, os candidatos do Bolsonaro nos grandes centros não são vistos como direitistas legítimos, mas oportunistas que estão usando o nome do presidente", analisou um parlamentar à coluna.
3. Bolsonaro pode ter perdido força nas capitais, mas continua em alta no interior e em pequenos municípios
Segundo quem acompanha a eleição em cidades menores e municípios do interior dos Estados, a popularidade do presidente continua em alta por lá. Nesses locais, candidatos ligados ao presidente devem sair vitoriosos. O conservadorismo segue em alta nessas regiões.
4. Presidentes nunca foram excelentes cabos eleitorais
Fernando Henrique ainda gozava de popularidade a partir do Plano Real, mas José Serra (PSDB) não foi nem para o segundo turno em São Paulo em 1996; Marta Suplicy perdeu a eleição em 2004 com Lula no poder (e popular); Dilma ajudou Haddad em 2012, mas perdeu em todas as outras capitais, lembrou à coluna o analista e ex-ministro Thomas Traumann.
Como se sabe, somente as urnas dirão a relevância do apoio do presidente no próximo dia 15. E as hipóteses, obviamente, não se encerram por aqui.
Superadas as eleições municipais, novas perguntas surgirão no horizonte. Quais serão os reflexos dos resultados na relação do governo Bolsonaro com sua base parlamentar no Congresso? Qual a consequência possível de um enfraquecimento (se isso, de fato, ocorrer)? O Centrão continuará de braços dados com o presidente? Vale ficar atento aos próximos capítulos.