Não foi por falta de aviso. A deputada Carla Zambelli (PSL-SP) anunciou em maio, durante participação no programa Timeline, da Rádio Gaúcha:
— A gente deve ter, nos próximos meses, o que a gente vai chamar, talvez, de "covidão" - em referência ao andamento de investigações da Polícia Federal que atingiriam governadores suspeitos de participação em esquemas de corrupção na pandemia de coronavírus.
Dito e feito. Naquela ocasião, em maio, o alvo foi Wilson Witzel, hoje já afastado por decisão judicial por causa das irregularidades investigadas pela polícia e pelo Ministério Público. A operação que mirou Witzel, aliás, ocorreu um dia após a declaração de Zambelli o que rendeu até mesmo interpretações irônicas sobre a "bola de cristal" da deputada bolsonarista.
- Se não houve (vazamento), ela tem bola de cristal - chegou a dizer o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, sobre Zambelli.
Nesta quarta-feira (30), o "covidão" foi atrás de Carlos Moisés, governador de Santa Catarina. A Polícia Federal realiza desde o início da manhã buscas contra o chefe do Executivo estadual, relativas a contratos de R$ 30 milhões para aparelhos destinados a doentes da covid-19.
Para além das previsões astrológicas, chama a atenção a ação (semelhante) orquestrada em governos estaduais para promover desvios polpudos de recursos enquanto o país agoniza com a morte de quase 143 mil pessoas. Diálogos interceptados pelas autoridades falam em "pedágio" de 3% na compra de respiradores em SC. Para o Ministério Público Federal (MPF), há elementos que demonstram a constituição de esquema criminoso de desvio de dinheiro público, conforme informou o repórter Humberto Trezzi em GZH.
Ora, que raios pensa um governante eleito pela população quando articula um esquema para encher os próprios bolsos enquanto brasileiros sequer conseguem realizar um enterro digno de seus familiares por causa do vírus? É desonesto, mas também desumano. Não há corrupção pior que a outra. Contudo, é difícil encontrar argumentos para defender quem debocha da saúde humana, tão precária no nosso país.
É lógico que o direito ao contraditório precisa ser assegurado, inclusive porque os alvos das operações curiosamente são neo-adversários do presidente Bolsonaro. Curioso. Porque andavam todos de braços dados durante a campanha eleitoral.
Pelo andar da carruagem, ainda há muito para ser investigado, descoberto e, principalmente, punido. Ao que parece, o covidão da deputada Zambelli ainda vai acordar muita gente graúda nos próximos capítulos.