A guerra de acusações entre o presidente Jair Bolsonaro e o governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel teve um novo episódio nesta sexta-feira (5). Em entrevista ao programa Timeline, da rádio Gaúcha, Witzel abriu a atilharia e disparou contra Bolsonaro.
Ao responder sobre à insinuação do presidente sobre uma suposta prisão contra ele, o chefe do Executivo fluminense disse que "quem tem que estar preocupado com a liberdade é ele (Bolsonaro)".
Witzel é investigado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por um suposto esquema de fraudes na área da saúde. Por trás da troca de farpas, há um pano de fundo: a campanha à Presidência da República em 2022.
Ouça a entrevista aqui:
O grupo bolsonarista rompeu com Witzel depois que ele revelou, em entrevista ao programa Em Foco com Andreia Sadi, da Globonews, - em setembro do ano passado - pretensões para disputar o Palácio do Planalto enfrentando, portanto, Jair Bolsonaro. A fala foi interpretada como gesto de ingratidão por parte de Witzel que se elegeu na onda do bolsonarismo, inclusive com apoio do filho do presidente e hoje senador, Flávio Bolsonaro. Na ocasião, o PSL (legenda pela qual Bolsonaro e os filhos se elegeram) rompeu com Witzel na esfera estadual.
Desde então, o presidente tem disparado declarações públicas contra o chefe do Executivo no Rio. Ontem, no cercadinho que reúne apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada, Bolsonaro respondeu, quando perguntado sobre o governador do Rio de Janeiro:
- Brevemente, já sabe onde ele deve estar - sinalizando a possibilidade de Witzel ser preso por irregularidades em função da operação que apura desvios no Rio de Janeiro na compra de equipamentos de saúde, em meio à pandemia do coronavírus.
Na reunião ministerial de 22 de abril, Bolsonaro nem sequer economizou nas palavras e chamou o antes aliado de "estrume".
Na entrevista à Rádio Gaúcha nesta sexta-feira (5), Witzel mirou em Bolsonaro, mas fez questão de respingar sua insatisfação em ases do bolsonarismo. Entre eles, a deputada federal Carla Zambelli, que anunciou em entrevista à Rádio Gaúcha que a PF miraria governadores numa operação que poderia ser chamada "covidão".
- Ela cometeu um crime que é interferir nas investigações. É tão leviana a fala dessa deputada que desmerece o Parlamento. Ela tentou cooptar o (ex) ministro Sérgio Moro. Isso já caracteriza corrupção. Ali na frente ela vai ser responsabilizada - disparou.
O governador também acusou a Procuradoria Geral da República de vazar informações para aliados de Bolsonaro sobre a operação de teve ele e a primeira-dama do Rio, Helena Witzel, como alvos no dia 26 de maio. O ex-aliado do presidente citou durante a entrevista a subprocuradora-geral da República Lindôra Maria de Araújo, braço-direito do chefe do Ministério Público Federal, Augusto Aras, e considerado um aliado de Bolsonaro.
Segundo Witzel, "deputados bolsonarianos" teriam levado informações falsas contra ele à subprocuradora-geral. Lindôra Araújo foi a responsável pelo pedido ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) para o cumprimento dos mandados na Operação Placebo.
- Toda essa construção foi feita com base nessas informações de jornal. Esse deputados bolsonarianos têm conhecimento porque têm relação dentro da Procuradoria Geral da República, não só na PF, mas mais na PGR pela minha percepção. Na ligação que eles estão tendo com o doutor (Augusto) Aras, nos leva a crer que nós estamos com uma República em situação de risco - afirmou.
Faltando ainda dois anos para a eleição, a única certeza é que a troca de farpas estabelecida só tende a aumentar. Em um cenário com mais de 30 mil mortos por coronavírus no Brasil, a tristeza é que governantes estejam mais preocupados com a cadeira do Palácio do Planalto do que com leitos de hospital.