O vice-prefeito de Porto Alegre, Gustavo Paim, não economizou nas críticas ao chefe do Executivo, Nelson Marchezan, ao comentar o pacote de projetos enviado à Câmara de Vereadores que busca tentar reduzir o valor da passagem de ônibus para abaixo de R$ 2 até 2021. Os projetos foram protocolados no final da tarde desta segunda-feira (27), com pedido para apreciação em sessão extraordinária entre esta quinta (30) e sexta-feira (31). Entre as medidas está: tributar as corridas por aplicativo (o que pode significar corridas mais caras), convencer empresas de Porto Alegre a trocar o vale-transporte por uma taxa que daria passe livre a todos os empregados e cobrar dos veículos com placas de fora da cidade uma taxa para ingressar na Capital.
Para o vice Gustavo Paim, trata-se de uma proposta "segregacionista", que ignora o fato de Porto Alegre ser uma cidade plural. Em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, ele afirmou que os projetos foram apresentados de forma apressada, sem discussão prévia dentro do Executivo. Na avaliação do vice-prefeito, a intenção por trás da apresentação é mostrar, durante a campanha eleitoral, que a prefeitura buscou fazer alguma coisa para reduzir o valor da tarifa.
— Eu não tenho a menor dúvida que não houve uma análise profunda. Eu sinceramente acho que essa proposta com uma votação de dois dias, sem passar pela CCJ, que isso não é uma proposta pra resolver o problema do transporte coletivo, para trazer soluções. É uma proposta eleitoreira, sabendo que este projeto não vai ser aprovado. Em dois dias, não tem como votar um projeto assim, sabendo das implicações para o sistema do transporte coletivo, por não estudar as implicações tributárias. Então me parece mais uma desculpa: 'apresentei e não foi aprovado'. Um projeto estudado ser apresentado aos vereadores em dois dias, é um desrespeito ao legislativo, é uma desculpa para depois dizer "eu tentei" — criticou.
E completou:
— Porto Alegre precisa de soluções definitivas e não desculpas eleitoreiras. Então, se é pra ter uma solução, que seja definitiva, tem que ser feito debate, tem que ser feita com diálogo, com maior número de atores possíveis. Eu repito, não fiquei sabendo desses projetos, não sei se os secretários ficaram sabendo, somente o secretário da pasta ficou sabendo. Mas os reflexos econômicos, ambientais e os reflexos em termos de planejamento urbano, e o comércio, e quem vai ter dificuldades econômicas... Eu não sou contra o debate, tem que haver. Algumas propostas são meritórias, mas a criação de taxa e de duas tarifas, tem muito mais consequências negativas — destacou.
Outro lado
De acordo com os secretários envolvidos no pacote, batizado de Projeto Transporte Cidadão, as medidas foram elaboradas seguindo a lógica de que os recursos para financiar o sistema de transporte público não podem mais vir apenas dos próprios passageiros – especialmente porque o sistema, com a concorrência dos aplicativos de motoristas, vem perdendo mais de 20% dos usuários por ano desde 2017.
– A proposta do prefeito (Nelson Marchezan) é que não esperássemos recursos federais e criássemos medidas que pudessem servir de exemplo a outros municípios. Fazer o que está ao nosso alcance, não transferir a responsabilidade – declara o secretário de Mobilidade Urbana, Rodrigo Tortoriello.