Autora da obra 71 Leões, lançada em outubro deste ano pela Editora Belas Letras, a publicitária Lau Patrón é uma das convidadas do programa Gaúcha Faixa Especial deste domingo, que vai ao ar às 20h, na Rádio Gaúcha. Lau conversou sobre a experiência de permanecer ao lado do filho, que com apenas um ano e oito meses sofreu um AVC isquêmico. Ele foi diagnosticado com uma doença rara: Síndrome Hemolítica Urêmica atípica (SHUa). João Vicente precisou ficar 71 dias no hospital, a maioria deles em coma.
Ao Faixa Especial, Lau lembrou sobre o dia da internação, sem a menor ideia de que o estado de saúde do filho se agravaria consideravelmente: "Era uma segunda-feira. Cheia de trabalho. A gente nunca está no presente". E disse que o que o dia mais difícil foi quando o filho sofreu o AVC:
— O AVC foi um marco. O antes e depois. Ele tava internado na UTI e, eu aqui fora, tentando respirar. Quando veio o AVC, naquela noite, foi algo como 'agora tanto faz o resto'. Eu só vou sair daqui com meu filho no colo — disse.
O primeiro prognóstico foi assustador:
— Me disseram que o João estava morrendo. Ele só teria mais 48 horas — lembrou.
Outra médica chegou a afirmar que, por conta das lesões no cérebro, o pequeno João Vicente não voltaria a ser o mesmo e teria uma vida 'vegetativa':
— Tu vai ter que enterrar o teu filho e aprender a amar outro. O João que vai acordar não ser mais o teu João, ela me disse — contou, na entrevista.
Foi ali, a partir do 'colapso' no corpo do filho, que Lau Patrón decidiu que passaria todos os dias ao lado dele, na UTI do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre.
— Eu passei a pensar sobre as escolhas que a gente faz. Eu tinha uma sensação muito forte de que a gente estava ligado por um fio invisível. Um fio que nos mantinha vivos. Ele me deixava viva. E eu o mantinha vivo. Se eu saísse muito longe, esse fio ia se romper. Era muito forte — contou.
E disse que o amor é que fez despertar nela esse instinto de sobrevivência.
— Quando a gente não está em risco real a gente tende a aumentar os nossos problemas. E aí vem a vida e te bota num risco real. Aí a coisa é diferente. Tu precisa sobreviver. O que tu vai fazer? Tu vai te descabelar? Tem uma criança precisando de ti — refletiu.
Lau confessou ainda que o aprendizado, vivido a partir da doença do filho João, é de que a felicidade não implica, necessariamente, em ausência de dor. O que a gente precisa, diz ela, é "generosidade" para falar sobre as dores que cada um vive.
— O João me ensinou isso. Que o que a gente precisa para a felicidade não é a ausência de dor. Então eu queria um livro que falasse sobre isso, que falasse sobre dor. Porque eu penso que a gente não supera nada. A gente vive. Hoje, a gente tem o João passando para a segunda série, alfabetizado. Eu vivo essa história. E sou muito feliz — define.