“Saiam da área! Não fiquem na área!”, gritava o policial ao megafone, de dentro da viatura da Brigada Militar. Quando ouvi a ordem, às 12h13min desta sexta-feira (3), diante do Mercado Público de Porto Alegre, senti um nó na garganta. Jamais pensei que viveria para ver o centro da maior cidade gaúcha ser evacuado devido às consequências de uma tragédia climática.
Por dever de ofício, fui até a região conferir com meus próprios olhos a situação do Guaíba, que subia sem parar. Cheguei à área central em um carro de aplicativo. Desci perto do viaduto da Avenida Borges de Medeiros segui caminhando para a parte baixa da Centro Histórico.
No trajeto, vi cenas que lembravam aqueles filmes sobre o fim do mundo: lojistas trancando as portas às pressas, pedestres andando a passos rápidos com semblantes fechados, tentando ir para casa, mendigos atônitos observando a correria incomum com o olhar de quem não tem para onde ir.
Já morei no Centro e sou frequentadora da região. Em 28 anos de vida porto-alegrense, nunca tinha visto nada parecido.
No entorno do Mercado, fechado e vazio, ratazanas e baratas corriam pelas calçadas como se procurassem abrigo. Olhei em direção à Avenida Júlio de Castilhos, paralela à Mauá (onde fica o muro) e vi a água parda sobre o asfalto. O rio-lago já havia ultrapassado a barreira e estava ali, a 30, 40 passos do Mercado — e subindo.
Curiosos aproximavam-se, caminhando a esmo na rua sem carros e sem o burburinho de sempre. Dava para andar no meio da avenida. As pessoas pareciam não acreditar no que viam, com os celulares em punho, fazendo fotos e vídeos. Fiz também postei no Instagram.
Foi nesse momento que passou a viatura. “Saiam da área! Saiam! Saiam!” A essa altura, uma das comportas do Guaíba, na Avenida Sertório, já havia se rompido. Vi, mais uma vez, ratos saindo dos bueiros e, instintivamente, procurando um lugar seguro. Saí de lá sem olhar para trás.