A jornalista Raíssa de Avila colabora com a colunista Juliana Bublitz, titular deste espaço
Na rua desde 2021, o projeto Rumos Mais Pretos surgiu nos corredores da UFRGS e do olhar atento de uma professora. Elisa Reinhardt Piedras, pesquisadora e extensionista da universidade, constatou através da orientação de trabalhos de pesquisa que a falta de diversidade nas agências de publicidade era uma realidade.
Acostumada com um ambiente mais plural, afinal, a UFRGS implementa ações afirmativas desde 2008, Elisa decidiu provocar o setor, derrubar os muros que afastam a universidade do mercado de trabalho e construir pontes. Em parceria com a DZ Estúdio, a primeira edição do projeto rendeu cinco vagas de estágio e a efetivação de três estudantes. A partir daí, Elisa decidiu que queria mais.
Em 2022, um evento organizado no ambiente universitário reuniu estudantes, agências, profissionais da área e inaugurou um debate sobre os caminhos e percalços que pessoas negras enfrentam após concluir o ensino superior.
Em um esforço coletivo, a professora conseguiu reunir diferentes lideranças que se interessaram em participar do projeto — entre elas, Felipe Rocha, fundador do Grupo de Profissionais Negros da Indústria Criativa do RS (GPNIC-RS), além da Associação Riograndense de Propaganda (ARP).
— Nós queríamos que o mercado sentisse essa capilaridade. Criamos um ecossistema, com mais agências, com o apoio do GPNIC-RS e da ARP e participação de outras universidades – conta Elisa.
Os resultados já começaram aparecer. Na edição de 2023, o Rumos Mais Pretos contou com a colaboração de 16 agências de publicidade e apoio de ESPM, PUCRS, UniRitter e Unisinos.
No total, 150 estudantes participaram de aulas de capacitação e 32 pessoas foram contratadas. Esses profissionais ainda participam de mentorias voluntárias oferecidas pelo GPNIC-RS. Além disso, cem profissionais foram diretamente envolvidos no programa.
— Nós, como universidade, não só fizemos a crítica social, como apresentamos o diagnóstico e mediamos essa comunicação entre os profissionais que estamos formando e o mercado de trabalho. Esse papel é estratégico, de conciliação — analisa Elisa.
Por que é necessário
O Censo de Diversidade das Agências Brasileiras, realizado em 2023 pela Gestão Kairós e pelo Observatório da Diversidade na Propaganda, ilustra a pertinência da iniciativa: 68% dos colaboradores das agências são brancos, contra 30% de profissionais negros. Em posições de liderança, a proporção é de 88% para 10%. Já em cargos de presidência, os brancos são 92%.