Eduardo Leite acostumou-se a vencer. Desde que entrou para a política, ainda jovem, em Pelotas, acumula vitórias eleitorais, algumas delas improváveis. No topo da lista, está o feito de ter se tornado o primeiro governador reeleito do Rio Grande do Sul desde a redemocratização. Neste domingo (1°), ao retornar ao Palácio Piratini, Leite assume o cargo com um compromisso superlativo: fazer jus à inédita segunda chance. Ele não pode decepcionar.
O início desta segunda gestão, como disse o próprio governador no discurso de posse, na Assembleia, será bem menos complicado do que foi em janeiro de 2019. À época, Leite começou o mandato após o auge da crise das finanças estaduais, amplificada pela recessão de 2016, a maior em décadas. Apesar dos esforços do governo de José Ivo Sartori, recebeu um déficit orçamentário de R$ 2,7 bilhões, salários atrasados desde 2016 e uma dívida de R$ 1,2 bilhão na área da saúde.
Hoje, Leite retoma a cadeira de governador em outra condição. Terá cerca de R$ 2 bilhões em caixa, sem mais compromissos em atrasos. Foi possível, inclusive, retomar investimentos no último ano e injetar um volume histórico de recursos em obras e outras melhorias. Isso quer dizer que vai tudo bem? Não.
Problemas estruturais persistem, em especial a dívida bilionária e infindável com a União e o passivo gigantesco com precatórios. Assinado no início de 2022, o regime de recuperação fiscal terá, inevitavelmente, de ser revisto e ajustado. A queda prevista de R$ 5 bilhões (em valores brutos) na arrecadação, devido à redução do ICMS, será um desafio à parte. E as pressões sobre Leite tendem a aumentar. Como me disse o atual secretário da Fazenda, Leonardo Busatto, tão difícil como colocar as contas em dia é mantê-las assim.
A manutenção do equilíbrio fiscal - não como fim, mas como meio para garantir serviços públicos de qualidade - pode ser ainda mais complexa diante da principal promessa de campanha do chefe de Estado: melhorar a educação, área em que Leite ficou devendo no primeiro governo.
Isso implica investir em melhoras físicas nas escolas, em novos equipamentos e, principalmente, em salários. Integrantes de uma das categorias mais numerosa do Estado, com 57 mil vínculos, os professores da rede estadual precisam ser valorizados. Sem gente inspirada e estimulada, é impossível fazer a revolução a que se propõe a nova gestão.
Que Eduardo Leite e o vice-governador Gabriel Souza tenham êxito no desafio que se inicia hoje. Se der certo, ganhamos todos nós.