
A neblina não é o pior adversário da pontualidade dos voos do aeroporto Salgado Filho. De acordo com a Fraport, que administra o terminal, e a Agência Nacional da Aviação Civil (Anac), as chuvas com raios trazem mais transtornos aos passageiros do que os dias com cerração.
Desde 2016, um termo de interdição está em vigor no aeroporto. Ele foi imposto pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e determina que as atividades gerais de solo não podem ser realizadas quando ocorrer tempestade de raios em distância igual ou inferior a 3 quilômetros do Salgado Filho.
Somente nos últimos quatro meses, as atividades no aeroporto ficaram 2h13min suspensas, de acordo com a Fraport. Três eventos foram registrados.
Em 9 de março, quatro chegadas e cinco partidas sofreram atraso durante 29 minutos. Onze dias depois, a incidência de raios fechou o aeroporto por 1h15min e afetou oito chegadas e uma partida. O último evento foi registrado em 29 de março, durante 29 minutos. Três voos de partida e um de chegada sofreram atraso.
Segundo a Fraport essa medida é específica e exclusiva para o Salgado Filho. Nenhum outro aeroporto do País tem que cumprir tal decisão em situações meteorológicas adversas. A administradora do terminal garante que, desde que assumiu, "inúmeras melhorias de estrutura e procedimentos foram implementadas". A empresa entende que a interdição não faz mais sentido.
A Fraport ajuizou ação judicial para afastar a interdição, mas ainda não houve despacho. De acordo com a Justiça do Trabalho, o processo foi suspenso em 2023 para uma tentativa de conciliação entre a Fraport, o Ministério do Trabalho, o que não ocorreu. A ação foi retomada e aguarda decisão da Justiça. A Anac também já se manifestou no processo contrária ao termo de interdição.
"O entendimento da Agência é que já existem mecanismos regulatórios próprios de gerenciamento de risco aeroportuário implementados que todos os operadores aeroportuários devem seguir, sem prejuízo das demais legislações específicas de Sistema de Proteção Contra Descargas Atmosféricas (SPDA)", informa a agência por meio de nota.
Apesar de a neblina ser muito mais recorrente e afetar um número maior de voos, a Fraport informa que os pilotos tem autonomia para pousar ou decolar mesmo em condições adversas. Somente quando o aeroporto funciona "abaixo das condições mínimas favoráveis" é que não é possível pousar ou decolar.
Morte na pista
A interdição ocorre em decorrência de uma morte na pista do aeroporto. Em julho de 2016, um funcionário da companhia aérea Latam foi atingido durante uma manobra de uma aeronave da empresa em um dia de chuva. Um mês depois, a superintendência do Ministério do Trabalho no Rio Grande do Sul determinou a interdição. A Infraero, que administrava o Salgado Filho, foi notificada. A partir de 2018, a determinação passou a ser seguida pela Fraport, quando ela assumiu a administração do aeroporto.
Em quatro meses, Salgado Filho fechou três vezes:
- 09/03/2023 – 16h13 até às 16h42 = 29 minutos de suspensão
- 4 chegadas atrasadas (tiveram que aguardar após o pouso)
- 5 partidas atrasadas - 20/03/2023 – 14h17 até às 15h33 = 1h15min de suspensão
- 1 chegada atrasada (teve que aguardar após o pouso)
- 6 chegadas atrasadas (tiveram que orbitar até serem liberados para pousar)
- 1 chegada alternada para Florianópolis
- 1 partida atrasada - 29/03/2023 – 15h29 até às 15h58 = 29 minutos de suspensão
- 3 partidas atrasadas
- 1 chegada atrasada (teve que aguardar após o pouso)