Apenas quatro cursos apresentaram taxa de crescimento em relação à densidade de alunos por vagas nos últimos 10 anos de vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Três deles são da área de Artes e um de Ciências Exatas e Tecnológicas. O dado chama ainda mais atenção diante do cenário, que é redução de 43,6% (16.746 inscritos a menos) no número total de candidatos da edição 2016 para 2025.
O bacharelado em Artes Visuais foi o curso que apresentou a maior taxa de crescimento da densidade durante o período, 65,9%. Há 10 anos, em média, cada vaga era disputada por 3,82 candidatos; nesta edição, a disputa subiu para 6,33. As outras três graduações que apresentaram taxa positiva foram a licenciatura em Artes Visuais e os bacharelados em Ciência da Computação e em Teatro.
Já na outra ponta, apenas 10 cursos tiveram taxa negativa que ultrapassou os 81%. Quatro deles são da área de Engenharia e Arquitetura, dois de Ciências Exatas e Tecnológicas, dois de Ciências Humanas e Sociais e outros dois de Ciências Biológicas, Naturais e Agrárias.
Queda geral
Diversos fatores influenciam a queda geral nas inscrições para o concurso. Entre os apontados pela reitora, Marcia Barbosa, estão a inversão da pirâmide etária no Estado, ou seja, a diminuição da população jovem, e os reflexos da pandemia e da enchente, que mexeram tanto no calendário acadêmico quanto na educação no nível escolar.
— A gente tem em torno de 21 mil pessoas inscritas e reduziu em 400 pessoas em relação à edição passada, o que, percentualmente, é muito pequeno. Esperava uma redução maior por conta da enchente, que bagunçou a vida de muita gente — comenta Marcia.
Apesar da queda de candidatos ao longo dos anos, não houve muita alteração entre os 10 cursos mais concorridos da universidade. Entre a edição de ingresso em 2016 e a de 2025, sete graduações se mantiveram na lista dos 10 mais disputados. São elas: Medicina, Psicologia diurna e noturna, Biomedicina, Fisioterapia, Direito diurno e Medicina Veterinária.
A lista apresenta os mesmos cursos da edição de 2024, sendo que a principal diferença é que Fisioterapia e Direito subiram de posição no ranking.
Mercado de trabalho
Em posse dos números de candidatos, a reitora comenta que o vestibular dá à universidade uma noção de quais as áreas que os jovens estão buscando mais. De acordo com ela, a constância, nos últimos anos, entre os cursos mais procurados revela cenário negativo para a reindustrialização do país.
— A notícia ruim, eu diria a notícia muito ruim, é que a gente não vê, entre os mais procurados, Ciências Naturais e Engenharias. Se a gente está num processo de tentativa de reindustrialização do país, não ter uma busca pelas Engenharias é ruim. Se estamos num processo que a gente tem que resolver problemas de saúde, não com o médico, mas com o cientista que pesquisa vacina, que vai tentar resolver a questão climática, precisamos de gente nas áreas de Ciências Naturais. E essas áreas estão diminuindo a procura. Então, isso é um grande alerta — pondera Marcia.
Como forma de tentar reverter o cenário, a reitora comenta que a universidade está trabalhando no assunto e pensando em maneiras de incentivar e mostrar aos jovens, e à sociedade como um todo, a importância das formações nas áreas para o crescimento do país.
Impacto do “Enem dos Concursos”
Políticas Públicas, Biblioteconomia, Administração Pública e Social, Arquivologia e Ciências Atuariais estão entre os 10 cursos com as maiores taxas de crescimento no número de inscritos de um ano para o outro. Essas graduações chamam a atenção por terem uma característica em comum que é a relação com concursos públicos. O curso de Políticas Públicas, por exemplo, saltou de 19 para 36 candidatos de 2024 para 2025, uma taxa de crescimento de 89,5%.
Na visão da reitora, esse aumento pode ter uma relação direta com o surgimento do “Enem dos Concursos” e o seu adiamento no Estado.
— É uma hipótese. Mas eu acho que tem um pouco a ver com o impacto do Enem dos concursos que a gente teve este ano. Inclusive, ele foi adiado por conta da enchente no Estado. Então, ganhou, no Rio Grande do Sul, mais visibilidade justamente devido ao adiamento — reflete Marcia.
Campus Litoral Norte
Na outra ponta, as menores taxas de crescimento são encontradas, principalmente, em cursos ofertados no Campus Litoral Norte. Das 10 menores taxas, cinco são graduações disponibilizadas em Tramandaí.
O comportamento já vem sendo analisado pela universidade. Após estudo do perfil dos estudantes e da região, medidas estão sendo adotadas para aumentar a procura pelos cursos ofertados no campus.
— A gente já entendeu que o público que vai para lá é o da região, então agora temos que focar no que esta região deseja para fortalecer. Para também tornar mais interessante, nós estamos reformando um prédio que é mais central, porque às vezes é importante ter algumas aulas à noite, mas à noite na localização atual é ruim. Como é uma região de trabalhadores e trabalhadoras, a gente vai caminhar nessa direção — revela.
Marcia comenta que também existe o desafio de melhorar a comunicação com a população e, assim, despertar o interesse pelos cursos já disponibilizados em Tramandaí.