As construções de duas Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), localizadas na região central do Estado, estão paradas. Elas estão sendo construídas nas cidades de Quevedos e São Martinho da Serra.
Desde às 4h de segunda-feira (30), 250 trabalhadores estão de braços cruzados. Segundo o Sindicato dos Trabalhadores na Construção Pesada do Rio Grande do Sul, há atraso no pagamento de despesas de viagem e Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
Funcionários de empresas terceirizadas de transporte, alimentação, máquinas, combustível, caminhões também reclamam que estão sem receber salários há alguns meses.
As duas obras, que estão em fase final de construção, são de responsabilidade das empresas Kaenge, Grupo Triângulo e Kurzawa. Esta última, inclusive, demitiu 107 trabalhadores. A maior parte destes operários é nordestina. O grupo reclama não ter recebido o pagamento de suas rescisões e não consegue retornar para casa.
O problema ainda não foi resolvido. Tanto que o sindicato dos trabalhadores ingressou com ação na Justiça de Santa Maria a fim de bloquear as contas das empresas envolvidas para que as indenizações possam ser pagas.
A coluna entrou em contato com representantes de uma das empresas. A Kaenge admite o problema. Revela que chegou a atrasar repasses de valores por alguns dias, mas nada que pudesse ser impactante.
Destaca que a dificuldade está afetando uma sub-contratada, a empresa Kurzawa. Apesar dos pagamentos estarem em dia, essa última empresa está em dívida com os trabalhadores.
A empresa Kurzawa reclama que iniciou os trabalhos em duas das usinas, em janeiro em 2021, sem contrato firmado com o grupo Triângulo. Diz ter cobrado a assinatura "inúmeras" vezes e não recebeu resposta, "ficando refém" da empresa que o contratou. A Kurzawa aponta que teve prejuízos financeiros e desequilíbrio contratual e sofreu rotineiros atrasos nos pagamentos. Por fim, promete buscar a reparação dos prejuízos na Justiça.
O Ministério Público do Trabalho do Rio Grande do Sul diz não ter sido informado sobre as dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores. Porém, com o ingresso de uma ação, aguarda a intimação que virá por parte da Justiça.
A obra da hidrelétrica de Quevedos está 95% pronta. A construção deveria estar pronta em junho.
Já o empreendimento de São Martinho da Serra está 70% pronto e a obra civil seria entregue em agosto. Porém, os prazos estão sendo revistos. As duas construções foram iniciadas em 2020 e fazem parte de um grupo de quatro PCHs.
O investimento gira em torno de R$ 600 milhões nas usinas de Júlio de Castilhos, São Martinho da Serra e Quevedos, todas na região central. As quatro formarão o Complexo Toropi.
A produção de energia terá capacidade para abastecer 148 mil residências todos os meses. O investimento é feito por pessoas físicas de São Paulo e Santa Catarina. Um dos patrocinadores é o empresário Luciano Hang, dono da rede de lojas catarinense Havan.
As duas primeiras usinas já estão em funcionamento. Somente a chamada de Quebra Dentes, localizada entre os municípios de Quevedos e Júlio de Castilhos, tem capacidade para abastecer aproximadamente 54 mil residências.
A assessoria de Luciano Hang informa que ele tomou conhecimento de um vídeo no qual alguns trabalhadores de uma empreiteira subcontratada relatam que estão sem receber. Os investidores garantem que todos os pagamentos estão em dia.
"Ressalta-se ainda que o empresário não compactua com o não pagamento de qualquer trabalhador. Serão tomadas todas as medidas cabíveis para cobrar as providências dos responsáveis", informa nota da assessoria.