Porto Alegre recebe hoje um hospital construído em 30 dias. O espaço foi erguido a partir de uma construção feita por módulos. E, a partir desta sexta-feira (29), começam as ações para instalar os equipamentos que garantirão o funcionamento da estrutura.
A estrutura foi erguida junto ao Hospital Independência (HI), com doação das empresas Gerdau, Ipiranga, Grupo Zaffari e Hospital Moinhos de Vento. O projeto foi apresentado em 24 de abril e o atendimento médico é projetado para começar ainda em junho.
A comparação do que ocorre tradicionalmente no Brasil é inevitável. Como foi possível? Uma explicação está na forma como as contratações de empresas ocorrem no País.
Antes mesmo de uma obra começar, é necessário haver projeto. E que bom que é assim. Vimos, aqui em Porto Alegre, como as obras das trincheiras da Ceará e a da Anita Garibaldi são afetadas se um projeto não for bem executado. Aliás, deveríamos gastar mais tempo projetando para errarmos menos na hora de construirmos.
Mas, no caso do hospital, esse trabalho já estava planejado. A fórmula de construção existia, assim como os recursos. Se a prefeitura, ou o governo do Estado, quisesse fazer o mesmo, realizaria uma consulta para empresas fazerem um projeto básico. Uma licitação seria realizada. Entre a elaboração do edital e a realização da licitação já se gastaria aproximadamente um ano. Só na fase de projetos.
Se tudo desse certo, a próxima etapa seria a realização da obra. Novamente, uma concorrência precisaria ser aberta. Mais uns nove meses seriam gastos para cumprir todo o trâmite imposto.
Diga-se de passagem que essa burocracia foi criada para evitar que empresas fossem escolhidas ao bel-prazer dos governantes, sem critérios. Para evitar que construtoras sem condições estruturais, pudessem assumir obras maiores do que sua capacidade. Mas a legislação é falha e não impediu, por exemplo, os grandes escândalos de corrupção vivenciados recentemente no País.
A obra não começaria sem licenças. Aqui teríamos mais alguns meses de cumprimento de um ritual necessário, mas lento e burocrático. Aliás, o setor privado também cumpre essa etapa. Mas com mais competência.
A construção seria iniciada, quem sabe, depois de uns dois anos. Com um projeto bem elaborado, se não sofresse com a falta de dinheiro, com a elevação de preços exponencial, que o vencimento de alguma licença ou prazo, a obra seria concluída, quem sabe, uns dois anos e meio depois do planejamento inicial.
Como disse, nós precisamos de planejamento. Sem ele, faríamos obra no escuro e gastando mais. Infelizmente, precisamos criar artifícios para proteger o dinheiro público. O problema é que quem quer roubar sempre encontra um jeito de burlar a fiscalização. Estamos, então, fadados ao engessamento? Por iniciativas como a demonstrada hoje com a do hospital mostramos que não.
Mais sobre o hospital
Serão 60 novos leitos que passam a ser incorporados na rede de Porto Alegre. O espaço será gerido pela Sociedade Sulina Divina Providência, que já é responsável pela gestão do HI. A nova estrutura será destinada, num primeiro momento para combater o coronavírus, mas ao final desta pandemia, os novos leitos seguirão em funcionamento.