"Se há moral no filme, é que, se nos deixarmos abertos e disponíveis, para as surpreendentes contradições da vida, encontraremos forças para continuar." (Bo Goldman, roteirista do filme Perfume de Mulher)
A intolerância ao fracasso de projetos pessoais não é linear ao longo da vida. À medida que amadurecemos, vamos nos tornando mais complacentes com nossas limitações, submetidos às descobertas, quase sempre desestimulantes, do quanto na juventude tínhamos uma visão exageradamente otimista de nossas virtudes. O que, como se poderia prever, é um atalho para frustração.
Convivendo com jovens, se percebe que as fantasias se repetem décadas após décadas, revelando que essa é uma característica da espécie, com adaptações circunstanciais às mudanças intempestivas. Até o início do século 20, a figura do jovem era muitas vezes referida pelas inconveniências do baixo nível cultural e a tendência de considerar rebeldia como falta de educação.
Mesmo com o aumento da expectativa de vida, o fascínio pela juventude só cresceu.
Há quem acredite que as coisas começaram a mudar depois que o grande F. Scott Fitzgerald, numa de suas frases mais famosas de O Grande Gatsby (1925), admitiu que "no fim das contas, a vida não tem muito a oferecer, além da juventude".
A frase, se tornou a síntese da geração (a X) que idealizou o jovem como modelo de vida e como público-alvo das grandes empresas. De lá para cá, mesmo com o aumento da expectativa de vida, o fascínio pela juventude só cresceu. A transformação desse encanto em obsessão foi acelerada pela chegada da geração Y, a dos millennials (os nascidos de 1980 a 1995), marcados pela chegada da internet, e o cortejo de modificações impostas pela instantaneidade, que minimizou o papel do professor e colocou os pais como uma improvável fonte de informação.
Os millennials são de fato fascinantes: estão sempre conectados, são questionadores, priorizam a experiência em detrimento da posse, são idealistas, poucos afeitos a poupar e, naturalmente, embaixadores da sustentabilidade. Mas como a roda não para de girar, todo mundo sabe que as duas próximas décadas serão comandadas pela geração Z, a que nasceu de 1995 a 2010 — e tem, portanto, de 12 a 27 anos. Uma parte dessa turma é o nosso público com o qual convivemos, diariamente, na universidade. Poupados da corruptela pelo pouco tempo de exposição à hipocrisia social, são afáveis, puros e aflitos em relação ao porvir, como aliás todos fomos um dia, e não importa se os rastros dessa utopia já se apagaram.
Movidos pela angústia de como alcançar o sucesso, são modelos comoventes de entusiasmo pueril e, por falta de juízo crítico, vulneráveis aos manipuladores inescrupulosos.
A mim, interessa o quanto carregam intacta a inteligência emocional, essa que distingue as pessoas que podem fazer diferença daquelas que serão apenas degraus na escada dos oportunistas.
A resposta emocional a uma obra de arte pode ser um bom instrumento de triagem. Um dia desses, pedi a uma turma nova que revisse Perfume de Mulher (1992). Na próxima aula, deveriam assinalar qual passagem consideraram inesquecível. Pois com tantas cenas marcantes, quase 30% dos alunos consideraram o diálogo do coronel Slade (Al Pacino) tentando convencer Donna (a linda Gabrielle Anwar) a dançar tango — quando ouve dela que tinha medo de errar, ele responde que "o tango é fantástico porque, à semelhança da vida, não devemos nos preocupar com o erro, porque sempre é possível recomeçar".
Percebem o quanto ainda há de esperança na geração de uma garotada capaz de valorizar o significado desta frase? Eu gostaria de ter sido o que eles serão.