Historicamente, o vestibular de Medicina sempre foi um dos mais disputados. E quem convive com estudantes de medicina percebe claramente a pureza de propósitos da maioria dos recém ingressos.
Claro que entre eles estarão os ingênuos que logo se surpreenderão com o quanto essa maravilhosa profissão expõe o candidato a situações e exigências que a maioria das pessoas comuns não tem coragem de enfrentar.
Haverá também, como em todas as outras profissões, os de mau caráter, que descobrirão antes do que imaginam o tamanho da ilusão que os impulsionou à fantasia do enriquecimento fácil, mas dessa parcela vamos esquecer, para não poluirmos a intenção deste texto.
O mercado da Medicina se tornou mais competitivo e exigente. Foco na pessoa pode ser o diferencial.
Com 353 faculdades de Medicina (173 delas criadas nos últimos 10 anos) e com a disponibilização de 35 mil novas vagas, a partir deste ano, o mercado se tornou, inevitavelmente, competitivo — e, por consequência, exigente.
Uma parte desses novos profissionais entrará no mercado de trabalho com uma qualificação técnica superior, e esta condição, para a maioria deles, representará um prêmio ao esforço despendido para lograr espaço em faculdades de mais alto nível.
Mas mesmo essas escolas, reconhecidas pela alta qualificação do ensino técnico, ao focarem quase exclusivamente no diagnóstico e tratamento das doenças têm revelado pouca preocupação com quem adoeceu.
Depois de mais de quatro décadas de atividade didática, somada ao exercício contínuo de alta complexidade, e tendo convivido com todas as emoções que a medicina raiz pode oferecer, me dei conta que era possível deixar um legado mais explícito do que acredito defina um médico de verdade.
A primeira medida foi me acercar de uma legião de idealistas que acreditam nas mesmas ideias e obter deles o aval e a parceria. E então, em 2021, com apoio inestimável da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), criamos uma disciplina optativa, a Medicina da Pessoa. A primeira edição da disciplina, destinada aos alunos dessa universidade e aos residentes da Santa Casa de Porto Alegre, foi tão bem sucedida que decidimos oferecer o curso, online e gratuito, a algumas das mais importantes escolas médicas do país, com uma anuência maciça. De tal maneira que, nesta segunda-feira (25), iniciaremos a segunda edição do curso, com apoio de 20 universidades brasileiras e centenas de estudantes inscritos.
O slogan é provocativo: “Venha ouvir aqui o que nunca se falou nas aulas convencionais”.
O argumento que tenho usado para persuadi-los a investir em humanismo é prosaico: perguntem a um médico conceituado como é que ele escolhe um colega quando precisa encaminhar um paciente. Certamente ele dirá que, entre profissionais igualmente qualificados tecnicamente, elegerá sempre o mais afetuoso. Com essa informação, a decisão que precisa ser tomada pelo jovem médico terá sido extremamente simplificada: “Depois de todo o sacrifício de mais de uma década de treinamento, você gostaria de ter muitos pacientes ou tanto faz que eles não apareçam?”.
Se você quiser fazer justiça ao seu esforço, anote aí: medicinapessoa.com.br.