A maneira mais primitiva de estancar o sofrimento físico, que historicamente tem sido a interrupção da consciência, vem sendo gradativamente substituída pela terapia de manipulação da sensibilidade, de tal maneira que o paciente deixe de receber os estímulos dolorosos ou passe a não percebê-los como desagradáveis. Esse tem sido um dos prodígios dos laboratórios de realidade virtual, que começaram como tratamento de distúrbios psiquiátricos, como síndrome do pânico e medo de se achar só em um lugar aberto (agorafobia), e se estenderam para controle de dores fantasmas e crises de depressão associadas a abandono e solidão. Velhinhos deprimidos em casas de repouso, colocados em ambientes virtuais, são “levados a passear” em lugares maravilhosos com paisagens deslumbrantes. Eles “voltam” encantados, adormecem sorrindo e dispensam os anti-hipertensivos e as drogas convencionais que lhes impunham um sono forçado e sem sonhos.
Palavra de médico
O que ainda está vivo em nós
A delicada morte dos sentidos é o anúncio mais sutil do fim de todas as coisas
J. J. Camargo