"Aprenda com os erros dos outros. Você não consegue viver tempo suficiente para cometer todos por si mesmo." (Hyman Rickover)
Um dia desses, numa assembleia que integrava cirurgia e oncologia, Darcy Ribeiro Pinto, uma das lideranças da cirurgia torácica brasileira, dando as boas-vindas a um evento que fora transferido de maio por conta da enchente, fez um comentário bem-humorado: "Se esse encontro tivesse ocorrido em maio, como planejado, hoje estaríamos desinformados, tantas foram as mudanças em quimioterapia".
Aquela observação, completamente verdadeira, teve para mim um efeito desconcertante, porque em qualquer atividade tudo o que é efêmero é temerário. E em saúde, considerando a nobreza da mercadoria envolvida, mais do que temerário, é assustador.
Como se sabe, a ciência se alimenta da dúvida.
Verdade que é inevitável admitir-se que o mundo acelerou, e as décadas que se interpuseram entre descobertas médicas relevantes até o início do século 20 passaram a ser muitas vezes contestadas, em questão de meses. E isso tanto ocorreu que ninguém se impressiona mais. Pelo contrário, atualmente há um certo receio de contestar-se as novidades efervescentes pelo risco de ser considerado retrógrado, quando devia, sim, ser considerado um sinal de maturidade dar um tempo ao novo antes de aplaudi-lo simplesmente por ser novo.
Outro risco é ser acusado de negacionista simplesmente porque, como se sabe, a ciência se alimenta da dúvida, mas muitas vezes a "nova descoberta," pretensamente destinada a resolver a tal dúvida, tampouco é verdadeira.
Abstraídas as controvérsias, em qualquer atividade identifica-se o velhinho pela afeição que ele dedica ao permanente e uma intolerância visceral (que os implicantes chamam de ranço) ao efêmero, que caracteriza o chamado mundo líquido da contemporaneidade.
Contar com a acolhida serena e muitas vezes testada do seu cuidador, que ao longo do tempo demonstrou estar afetuosamente disponível, explica a fidelização do paciente idoso que anuncia com orgulho o nome do doutor que aprendeu a chamar de seu. E o paciente que ainda não o encontrou devia rezar para que ele esteja, de braços abertos, naquele livreto de credenciados que o seu plano lhe ofereceu.
Isso justifica o apelo do Gervásio, um paciente antigo, agora com 89 anos, operado de um câncer de pulmão na virada do século: "Doutor, me ajude. Preciso de um outro cardiologista, porque o meu fez uma coisa horrível: ele morreu, doutor, e do coração!".
Mas o pedido final confirmou o quanto os velhos são avessos a mudanças radicais: "E tem uma coisa muito importante: ele não pode ter mais de 60 anos, porque eu não tenho mais paciência para recontar a minha história a cada 20 anos".
Indiquei, por via das dúvidas, um ótimo cardiologista com 50 anos, magro, remador e tenista. Vá saber o quanto o efeito do otimismo ilimitado possa ser duradouro.