“Revelar a verdade é mais difícil do que produzir ficção”, diz o escritor israelense Yuval Noah Harari, a respeito do fluxo de desinformação com o qual vivemos atualmente, e que é combustível para o mau uso de inteligência artificial, tema do Gaúcha Atualidade desta manhã.
IA é um dos eixos da narrativa do novo livro de Harari, Nexus, em que ele analisa a história das redes de informação, desde a pré-história até hoje.
E sua perspectiva não é positiva: “A inteligência artificial é a tecnologia mais poderosa e diferente de tudo o que já existiu, porque pode tomar decisões sozinha. Não é uma ferramenta, é um agente. A bomba atômica era uma tecnologia muito poderosa, mas que dava poder a nós, humanos, para decidir o que explodir, quem atacar. A IA toma a decisão de quem é o alvo. Neste sentido, está tirando poder de nós”, analisou o autor, em entrevista a Pedro Bial na semana passada.
Harari falou sobre a necessidade de controle humano sobre as máquinas, assim como há em outras indústrias.
“Se você fabrica carros, tem de investir muito dinheiro em mecanismos de segurança; se inventa um remédio, não pode lançar no mercado sem testar antes. O que acontece se der controle do sistema financeiro, das bolsas, à IA? Não é o cenário hollywoodiano de robôs atacando humanos. É uma IA causando uma crise financeira”, comparou ele. Pode não ser o apocalipse, mas sabemos que crises financeiras arruínam vidas e também causam mortes.
Agora, se informação não é sinônimo de verdade, e se pessoas boas estão tomando decisões ruins e usando mal a inteligência artificial com base em má informação, qual é o caminho?
“O primeiro passo é reconhecer o perigo. Nós cometemos erros. Não assumamos que a tecnologia é perfeita nem que sabemos como usá-la. Temos de investir muito em segurança e mecanismos de autocorreção”, respondeu o autor.
E, sobre a disseminação de desinformação, deep fakes como o de Andressa Xavier, mentiras que se alastram como se houvesse rastilho de pólvora no WhatsApp, ele diz: “Informação é essencialmente uma conexão, e muitas vezes a verdade não é uma conexão forte. É mais fácil conectar as pessoas com fantasias, com a ficção, do que com a verdade”. Portanto, “é preciso investir na construção de instituições como jornais, de universidades, institutos de pesquisa, pois é preciso trabalhar duro para revelar a verdade”.
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