Quem aí ainda ouve CDs? Cada vez mais dependente dos serviços de streaming, a indústria da música tenta combater sites que falsificam plays para inflar os números, melhorar o posicionamento de um artista ou canção em aplicativos como o Spotify, e com isso ganhar mais dinheiro.
São as chamadas fazendas de streaming, uma coleção de telefones celulares ou computadores tocando a mesma música sem parar.
Como funciona?
Quanto mais vezes uma música é tocada, mais ela é recomendada aos usuários da plataforma, e quanto mais ouvida a canção, mais royalties o artista ganha. O Spotify, por exemplo, que cobra cerca de R$ 30 por mês dos assinantes no Brasil, entrega dois terços da sua receita total à indústria musical na forma de royalties, que são distribuídos proporcionalmente à fatia de plays de cada artista.
As fazendas de streaming enganam o algoritmo e assim prejudicam tanto os músicos quanto o público. Afinal, desviam dinheiro dos artistas e ludibriam o ouvinte, entregando a ele o que não interessa ouvir.
Segundo o jornal britânico Financial Times, executivos da indústria da música estimam que 10% de todos os streams são falsos, não escutados por humanos.
Ainda conforme o FT, a consultoria JPMorgan calculou que, se uma pessoa publicasse uma faixa de 30 segundos no Spotify e programasse seu próprio celular para ouvi-la no repeat 24 horas por dia, receberia US$ 1,2 mil por mês em royalties.
Em março, a Federação Internacional da Indústria Fonográfica e a Music Canada, que representa Sony, Warner e Universal naquele país, conseguiram tirar do ar nove sites que manipulavam os plays. No mesmo mês, um homem foi condenado a 18 meses de cadeia na Dinamarca por falsificar streams: segundo a revista Wired, ele criou uma fazenda de robôs para ouvirem a música produzida por ele e recebeu US$ 290 mil em royalties que não merecia.
Veja como funciona uma fazenda de streaming neste vídeo:
"Fazenda de fãs" financiou turnê
Em 2014, a banda norte-americana Vulfpeck usou a estratégia de fazendas de streams para levantar dinheiro para uma turnê. Só que, em vez de robôs, foram humanos que fizeram o trabalho. A banda convenceu seus fãs a tocarem no repeat, enquanto dormiam, um álbum de cinco minutos com 10 faixas de 30 segundos cada em branco. Isso mesmo: silêncio absoluto (o nome do disco: Sleepify). A estratégia rendeu aos músicos US$ 19,6 mil em royalties, antes que o álbum fosse removido pelo Spotify.
Sabia que...
18% de todos os cliques na internet a cada dia são executados por robôs, fazendas de cliques ou algum tipo de automação; ou seja, são fakes. A estimativa é da Cheq, multinacional especializada em segurança de dados online.