O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia, campus de Porto Alegre, começa em 10 de julho a ministrar um Curso de Extensão de Gestão de Riscos e Desastres. Não se trata de coincidência e, sim, de uma decisão tomada após a catástrofe que se abateu sobre o Rio Grande do Sul em maio, que resultou em 180 mortes, dezenas de desaparecidos e danos em 471 municípios gaúchos.
Serão 40 alunos e as aulas são gratuitas. Outros 39 se inscreveram e pretendem cursar a próxima turma, possivelmente a partir de outubro. Deve ser ministrada uma aula por semana, com um início teórico e, ao final, disciplinas práticas.
A ideia de criar o curso vinha amadurecendo e se consolidou após a calamidade de maio. As aulas ocorrerão ao longo de quase três meses, com encerramento em 25 de setembro. Inédito no Rio Grande do Sul, o curso terá a coordenação da professora Deise Leite Bittencourt Friedrich, especialista em Psicologia Social, e contará com professores das áreas de Defesa Civil, Gestão de Riscos e de Sistema de Comandos em Operações, que já atuaram em catástrofes no Brasil e no Exterior.
A aula magna será da professora Cleonice Beppler, coordenadora do Curso Técnico Subsquente em Defesa Civil, EAD, ofertado pelo Instituto Federal Catarinense (IFC), no campus de Balneário Camboriú. O curso catarinense é referência no país, com docentes com experiência em gestão de desastres (como enxurradas e enchentes que seguidamente devastam as serras e o litoral norte de Santa Catarina) e também em Proteção, Defesa Civil e Autoproteção.
O Curso de Extensão do IF no Rio Grande do Sul terá como base a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (PNPDEC), que dispõe sobre o Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil (SINPDEC), e o Conselho Nacional de Proteção e Defesa Civil (CONPDEC). Entre outras providências, esses três dispositivos interligados preconizam a criação de um sistema de informações e monitoramento de desastres, explica um dos professores do curso de gestão de riscos, o sargento reservista da BM Betho Nunes.
Especialista em sobrevivência em locais de desastres, Nunes é um dos instrutores do Desafio de Honra, um curso ministrado, também gratuitamente, por policiais, militares e outros servidores da área de Defesa Civil para treinar voluntários que atuam em catástrofes. A tragédia ocorrida em maio acelerou a ideia de montar um curso de extensão, até para identificar falhas nos procedimentos que ocorreram e sugerir providências.
— Costumamos fazer uma imersão de três dias em uma área de difícil acesso, para treinar técnicas de atuação em resgate, rapel e salvamentos na água. Via de regra usamos o Centro de Instrução do 19º Batalhão de Infantaria Motorizado de São Leopoldo, tropa de pronto-emprego do Exército, baseada no Rio Grande do Sul — explica Nunes.
É provável que os alunos do IF façam suas aulas práticas naquele centro de instrução militar. A iniciativa é mais que meritória. Zona de transição climática, o Rio Grande do Sul merece e precisa de cursos assim.