A região da segunda maior cidade da Ucrânia, Kharkiv (cidade do tamanho de Porto Alegre, no nordeste ucraniano, próximo à fronteira com a Rússia), está sob forte bombardeio há dias. E o Ministério de Defesa russo reivindicou, no domingo (9), a captura de quatro localidades nessa mesma área, na maior ofensiva terrestre sofrida por essa região desde fevereiro de 2022, quando tropas russas tentaram tomar a metrópole (também conhecida como Cracóvia). Os ataques não poupam civis.
É um duro teste de sobrevivência para a Ucrânia, que foi parcialmente ocupada por tropas russas em fevereiro de 2024 e desde então tenta expulsar os vizinhos (e inimigos). A grande questão é que o governo ucraniano depende de terceiros para obter armas e dinheiro. Já a Rússia produz a maior parte das suas armas e tem muito mais soldados, ressalta recente artigo da rede de TV britânica BBC.
Esse é um ponto decisivo. A população russa é de mais de 144 milhões de habitantes — pouco, para seu tamanho gigantesco, mas cerca de três vezes e meia à da Ucrânia. É o suficiente para fazer a diferença, numa guerra com dezenas de milhares de mortes em combate. O governo ucraniano tem tentado recrutar combatentes, por vezes à força. É uma luta diária, mesmo que com tons heroicos. Muitos jovens deixam o país e muitos soldados estão na casa dos 40 anos de idade. Isso causa desgastes ao presidente ucraniano Volodimir Zelensky, que precisa tanto de gente como de armas para continuar sua causa.
Outra questão é armamento. A produção russa supera em muito a ucraniana, duramente atingida pelos bombardeios da Rússia. A Ucrânia depende de outros países para se defender e isso está cada vez mais complicado, pois tem mais de 1 mil quilômetros de fronteira com os russos. Enquanto bombardeiam Kharkiv, as tropas russas também atacam Kherson, no sul. O objetivo inicial da guerra, controlar as regiões do Donbass e Donetsk, no leste (fronteiriças entre os dois países), está cada vez mais próximo para o presidente russo Vladimir Putin.
Enquanto isso, o governo ucraniano tenta convencer aliados a cederem armamento. Os EUA, de forma relutante, concordaram recentemente em fornecer aviões de combate F-16 mais antigos que estavam em desuso pelas forças aéreas da Otan. Mas eles ainda não entraram em combate, o que permite que a aeronáutica russa tenha mais espaço para atacar.
E como tem atacado. Isso impede a Ucrânia de realizar um contra-ataque como o do verão de 2023, com milhares de soldados treinados em vários países europeus. No ano passado, apesar do grande esforço, não conseguiram concretizar a ofensiva para esmagar linhas russas, rompendo a ligação entre Donbass e a Crimeia (tomada pelos russos em 2014). Agora está ainda mais difícil. Isso porque os russos têm bombardeado incessantemente as defesas antiaéreas ucranianas e fabricado armas e munições em maior quantidade do que as enviadas para a Ucrânia pelas economias ocidentais.
A grande questão é que a guerra vai para seu terceiro ano e o tempo, esse fator implacável, joga a favor dos russos.