Jair Bolsonaro fez nesta quinta-feira (24) sua segunda aparição presencial em um encontro de governo, desde que perdeu as eleições presidenciais, em 30 de outubro. Ele recebeu no Palácio da Alvorada, onde reside, os chefes das Forças Armadas. O encontro não estava previsto na agenda oficial.
Compareceram os comandantes do Exército, Marco Freire Gomes, da Marinha, Almir Garnier, e da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista. A reunião também contou com presença do general da reserva Walter Braga Netto, companheiro de chapa de Bolsonaro na sua tentativa de reeleição e ex-ministro da Defesa.
A reunião fora do previsto chamou a atenção e ouriçou a militância bolsonarista nas redes, sobretudo no twitter. Mesmo que o presidente continue sem se pronunciar. Afinal, desde 31 de outubro, um dia após o pleito, manifestantes simpáticos a Bolsonaro fazem bloqueios em estradas e vias em torno de quartéis do Exército, apelando para que as Forças Armadas impeçam a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vitorioso nas urnas.
O encontro com militares também ocorre um dia depois de ser malsucedida uma iniciativa dos bolsonaristas em questionar a legitimidade do resultado do pleito. O Partido Liberal (PL), de Bolsonaro, ingressou com pedido de investigação de mais de 60% das urnas, que conteriam supostas irregularidades. A solicitação foi rejeitada pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, que argumentou que as mesmas urnas usadas no segundo turno (com derrota de Bolsonaro) deram vitória consagradora ao PL no primeiro turno, quando esse partido elegeu a maior bancada no Congresso Nacional.
Moraes determinou que a coligação de Bolsonaro (formada por PL, PP e Republicanos) pague multa no valor de R$ 22.991.544,60 por litigância de má-fé. E ainda ordenou o bloqueio dos fundos partidários das três legendas até o pagamento da penalidade imposta.
A visita dos militares é coincidência? A assessoria de Bolsonaro colocou panos quentes na visita e anunciou que os militares estiveram no Alvorada para conversar sobre a ida do presidente na cerimônia de formatura dos cadetes na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), que ocorre no sábado (26), em Resende (RJ). O próprio Bolsonaro se formou lá.
O colunista falou com generais da ativa. Eles dizem que nenhuma determinação foi passada a eles pelo comando das Forças Armadas. Não existe missão de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), desencadeadas quando há distúrbios de rua, greves de policiais e/ou ameaça de invasão ou depredação de instalações estratégicas como portos, aeroportos, refinarias, sedes de ministérios e de governos em geral. Nem Estado de Defesa ou Estado de Sítio, medidas excepcionais, usadas em períodos pré-guerra civil, caracterizados por toque de recolher, restrição severa a deslocamentos, restrição ao sigilo de comunicações e outros poderes excepcionais aos militares, como prisões e ingresso em alguns locais sem prévia ordem judicial.
— Nada disso. Tanto que estou saindo do expediente para assistir ao jogo do Brasil na Copa — resume um dos oficiais consultados.
Os generais já estão acostumados com sondagens de última hora de Bolsonaro sobre o ânimo nos quartéis. A posição do Alto Comando das Forças Armadas, no entanto, não mudou desde antes da eleição: o eleito tomará posse. Claro que consideram que o ministro Alexandre de Moraes poderia ser mais diplomático ao negar a investigação sobre as urnas, que pode ter exagerado ao multar quem realizou o pedido de verificação. Mas nada disso, comentam as fontes, fará com que militares saiam dos quartéis para uma aventura fora do previsto na Constituição. Usam como exemplo vários outros episódios que também não resultaram em levante da caserna. Faz sentido.