Por sugestão do Jair Bolsonaro, as Forças Armadas participaram da fiscalização das urnas eletrônicas na votação de 2 de outubro. O presidente não se cansa de dizer que desconfia do sistema de votos eletrônicos e afirma acreditar que mesmo o pleito que o elegeu, em 2018, pode ter sido fraudado - no caso, sua vitória teria sido maior do que a apontada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Então solicitou a militares uma auditoria.
Os fardados cogitaram publicar um boletim com suas primeiras impressões ainda na noite do pleito, logo após divulgação dos resultados pelo TSE. Mas esse anúncio não aconteceu. Com base nisso, o ministro do TCU Bruno Dantas requisitou segunda-feira (10) ao Ministério da Defesa uma cópia do relatório da auditoria realizada no primeiro turno.
Ele deu 15 dias para que os militares entreguem o documento, prazo que termina antes do segundo turno da eleição (que será no dia 30). O TCU atende a um pedido do subprocurador-geral da Procuradoria de Contas, Lucas Rocha Furtado, que escreveu: "A Constituição Federal admite sigilo em raras hipóteses, uma delas quando a informação seja imprescindível à segurança do Estado. Neste caso, é a segurança do Estado que sairá fortalecida com a divulgação de tais informações".
As Forças Armadas avaliaram 385 boletins e fizeram biometria em 58 aparelhos
Questionamos os militares sobre o porquê da demora. Recebemos uma informação extraoficial, de gente envolvida no assunto: enquanto o Tribunal de Contas da União (TCU) analisou somente os votos para os cargos majoritários nos boletins de urnas, a análise dos técnicos das Forças Armadas é de todo o conteúdo das urnas testadas, incluindo os cargos de deputados federais e estaduais e os números dos que não foram eleitos. Isso representa milhares de informações a serem conferidas.
Essa mesma fonte disse que não serão divulgados resultados parciais. Só que o próprio presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, se encarregou de comentar a parte do teste feita pelas Forças Armadas no que se refere a votos para presidente da República. Quatro dias após o pleito, ele disse que não foram encontradas divergências no teste de integridade das urnas, o que inclui a biometria. "100% de aprovação nos testes", expressou Moraes, em conversa com repórteres em Brasília.
Há rumores entre os próprios militares de que Jair Bolsonaro teria recomendado que os testes abranjam também o segundo turno, embora ele mesmo não tenha contestado os resultados do primeiro turno. O presidente teria comentado que fraudes podem acontecer tanto no início como no fim do processo de votação.
Sendo verdade ou não a interferência de Bolsonaro, as autoridades judiciais dão mostras de que não estão dispostas a esperar. Tudo parece ser mais um capítulo no embate entre o Executivo e alas do Judiciário, tendo como pano de fundo o pleito mais acirrado desde a redemocratização do Brasil, em 1985.