A memória de Daiane Griá Sales clama por Justiça, mas já se sabe que ela vai demorar. A jovem caingangue, de 14 anos, foi assassinada nas proximidades da área indígena da Guarita, em Redentora, no noroeste do Rio Grande do Sul. O corpo dela estava dilacerado da cintura para baixo. A perícia diz que isso é obra de animais, mas a comunidade está assustada. Até a expressão ‘magia negra’ começou a ganhar espaço, embora as autoridades neguem qualquer indício de premeditação no crime.
Daiane tinha ido em várias festas em 31 de julho, último dia em que foi vista com vida. Após uma delas, encontrou a morte. Com base em depoimentos, a Polícia Civil pediu e conseguiu a decretação da prisão de dois rapazes. Eles não estão presos por envolvimento direto no assassinato – ainda não há provas disso –, mas porque foram os últimos a serem vistos com a garota. As suspeitas são de que tenham assistido ou participado de algum abuso sexual praticado contra a caingangue. Há indícios de que ela tenha sido estuprada antes de ser morta, num gramado à beira de uma estrada junto à reserva indígena.
Como os dois suspeitos presos são brancos, cresce entre defensores da causa caingangue a suspeita de que Daiane tenha sido assassinada por ser indígena. As autoridades não têm qualquer indício disso, até porque não está afastada a participação de índios numa sessão de abusos que terminou com homicídio (essa é uma das hipóteses). Nesse caso, a garota teria sido morta num feminicídio, por ser mulher, não pela identidade racial e cultural.
Cresce a pressão da comunidade por respostas, mas sequer a causa da morte se sabe. Uma corda foi encontrada no local e marcas no pescoço, mas os peritos não sabem dizer se ela foi estrangulada. Ante a dúvida, o promotor de Justiça Miguel Prodanosche cogita solicitar exumação do corpo de Daiane. Mesmo morta, a jovem continua a mobilizar o clamor por Justiça.
Os caingangues pretendiam se mobilizar, mas com a prisão dos suspeitos, desistiram de fazer um protesto. Por enquanto, avisa o cacique da Guarita, Carlinhos Alfaiate.