Servidores penitenciários estão acampados na frente do Palácio Piratini nesta segunda-feira (7), segurando balões pretos. É um protesto contra a tragédia protagonizada pelo crime organizado na madrugada, em Caxias do Sul, quando bandidos mataram um agente, feriram com gravidade outro servidor e atingiram ainda mais dois funcionários de uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), um guarda e uma responsável por limpeza.
Os criminosos estavam lá para resgatar um comparsa, Guilherme Mendonça Huff, apenado na Penitenciária Regional do Apanhador, na zona rural, a quase 50 quilômetros da unidade de saúde de Caxias. O preso fingiu uma crise renal e pediu para ser levado para atendimento médico. Enquanto estava sendo atendido, foi resgatado por três comparsas que chegaram na UPA armados com fuzis. Na tentativa de evitar o resgate, morreu o agente Clóvis Ronan, 54 anos, e outro ficou ferido, além de duas pessoas que não faziam parte da escolta.
Estive olhando o prontuário criminal de Huff. É marcado por tiros. Em 2018, em Torres, participou de um assalto a banco e, na fuga pela BR-101, tiroteou com policiais gaúchos e catarinenses. Esse roubo é um dos que o levaram para a prisão.
Conforme policiais, ele é ligado à facção Os Manos, oriunda do Vale do Sinos. Essa mesma facção protagonizou há duas semanas uma tentativa de resgate de outro líder criminoso em Venâncio Aires. Vários bandidos em veículos chegaram atirando no presídio. Deu errado, graças à valentia de servidores penitenciários e PMs, que repeliram os bandidos, apesar de portarem armamento bem inferior ao dos criminosos.
Corre entre os servidores penitenciários a informação de que as autoridades foram avisadas sobre os riscos de levar Huff à UPA, mas não havia gente para reforçar a escolta. À tarde, em coletiva em Caxias, o titular da Susepe, José Giovani Rodrigues disse:
— Por questões da gestão da casa prisional e das questões do contexto do dia, que a escolta saiu da forma que podia naquele momento.
Resgates são o ponto mais temido por agentes penitenciários. Em 1985, dois deles, Jorge Medeiros e José Carlos dos Santos, foram fuzilados quando escoltavam dentro de um ônibus o assaltante João Clóvis Vieira, de apelido Topo Gigio. Um dos autores do resgate sangrento foi Dilonei Melara, que ganharia a partir daí impulso como líder de facção.
O episódio desta segunda deixa claro como, na prática, os agentes merecem receber o status de policiais penais, que tanto reivindicam. À tarde, o Piratini protocolou na Assembleia PEC que regulamenta o projeto no RS.