Cada vez que ouço alguém se referir “aos nossos heróis” de certos reality shows midiáticos, sinto um tremendo mal-estar. Por participarem de algum concurso musical, em busca do estrelato? Por estarem confinados numa mansão, na esperança de ganhar R$ 1,5 milhão? Por enfrentarem certos limites físicos durante um período de tempo em meio à natureza, também na tentativa de ficarem milionários (e com equipes médicas à disposição, caso algum ferimento ocorra)?
Não, pessoal. Isso é entretenimento e competição. Heroísmo, definitivamente, não é. Desde a Grécia antiga, onde o termo foi cunhado, heróis são os que se sacrificam pelos outros. Sem pensar em si, mas no bem coletivo. Foi o que fez o policial civil Fabiano Ribeiro Menezes ao neutralizar um atirador enlouquecido, numa pizzaria em Jaboticaba, no norte do RS.
O atirador chegou no restaurante para se vingar de um desafeto. Sem meias palavras, sacou de um revólver e disparou contra o outro homem, matando-o instantaneamente. Caminhou até o balcão, com a arma ainda na mão, em meio aos trêmulos frequentadores da pizzaria. Foi então que o comissário Menezes decidiu reagir. Faltavam-lhe apenas dois anos para a aposentadoria, mas jurou ao entrar na academia um lema que, pelo jeito, encarava a sério: “Servir e proteger a sociedade”. E foi o que fez. Sacou da pistola e deu voz de prisão ao matador.
O atirador enlouquecido reagiu, só que se agarrou a um cliente para servir de escudo e, por trás, sacou o revólver e disparou contra o policial. O comissário Menezes foi atingido no peito, mas ainda conseguiu acertar três tiros no agressor, imobilizando-o.
Menezes morreu a caminho do hospital. Talvez nem saiba, porque ficou inconsciente, mas foi herói. O matador sobreviveu. Não faz sentido, não é mesmo? Mas a humanidade tem dessas coisas.
O homem é o lobo do homem, como bem definiu o filósofo Thomas Hobbes. É o ser que mais ameaça sua própria espécie. Ainda bem que, dentre os de nossa espécie, alguns são feitos de uma fibra incomum, generosa e corajosa. Como Fabiano Menezes.