A invasão do sistema de informática do Judiciário estadual, ocorrida esta semana e ainda não solucionada, ocasionou diversos problemas. O mais conhecido é a paralisação do andamento de processos. O site do Tribunal de Justiça não deixa abrir as ações e, na maioria dos casos, os juízes só conseguem visualizar processos com menos de dois anos de existência. Com isso, não há como alimentar o sistema com o teor das novas audiências, por exemplo.
Mas há mais risco aí. Em conversa com magistrados, levantamos alguns dos temores deles:
Chantagem - há um boato de que os hackers exigem pagamento em bitcoins (moeda virtual) para repassar a chave capaz de desembaralhar os dados sequestrados do Judiciário e devolvê-los. O Tribunal de Justiça não confirma exigência de resgate pelas informações, um tipo de ataque cada vez mais comum no planeta. “Se tentaram isso, se enganaram de alvo, porque o TJ não tem verba para pagar esse tipo de chantagem. Não é uma empresa, não existe dinheiro secreto, tudo tem destinação certa”, pondera um desembargador.
Perda de processos – os hackers conseguiram paralisar a atividade processual. Não se sabe quantas ações foram violadas ou quantas desapareceram (pelo menos, isso não foi divulgado). Muitas não têm background em papel físico, ou seja, só existem virtualmente. Caso configurado, é um problemaço, que pode resultar em retrabalho nos processos judiciais.
Uso de dados confidenciais – outro receio dos desembargadores é que os hackers não estejam atrás de dinheiro do Judiciário em si, mas de informações das ações. O crime organizado pode ter ordenado a invasão cibernética, com vistas a sumir com processos ou retardar o andamento deles, até com a intenção de que prescrevam. Outra possibilidade é uso dos dados desses processos, alguns dos quais sigilosos, para coagir réus ou testemunhas.
Depósitos sensíveis – o Judiciário tem locais onde são guardadas armas e drogas apreendidas. Eles costumam ser trocados periodicamente para evitar roubos – e poucas pessoas sabem sua localização. Juízes receiam que esse tipo de informação tenha sido alcançado pelos hackers.
Tudo, na realidade, são temores que podem não se confirmar. E a invasão hacker se tratar apenas de uma demonstração de força de algum grupo extremista. Uma vingança mesquinha contra interesses contrariados, sem maiores objetivos financeiros ou estratégicos. Menos mal que o caso está em boas mãos, com um competente promotor criminal e também a Delegacia de Repressão a Crimes Informáticos, da Polícia Civil.