O grande assunto da semana é a possibilidade de o Senado abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar falhas no combate à covid-19. O foco é o governo federal, com o Ministério da Saúde em particular, já que a eles cabe a política nacional de enfrentamento da pandemia. Mas o presidente Jair Bolsonaro não quer ser incinerado sozinho nessa fogueira política e solicitou que os parlamentares também abordem casos de irresponsabilidade que envolvam governadores e prefeitos, com quem ele troca farpas desde que o coronavírus apareceu no Brasil.
E a base para questionar governadores e prefeitos já se sabe qual é: desde março de 2020, a Polícia Federal desencadeou nada menos do que 76 operações sobre desvios que envolvem o combate à pandemia, assunto já abordado por GZH em duas oportunidades. Essas ações resultaram em 147 prisões em 23 Estados.
Os alvos mais vistosos são dois governadores, Wilson Witzel (PSC-RJ) e Carlos Moisés (PSL-SC), ambos afastados devido a processos de impeachment por supostas fraudes em gastos com o combate à covid-19.
Há também secretários de Estado no rol de investigados, como o gaúcho Alberto Beltrame, que chefiava a Secretaria de Saúde do Pará. Ele é objeto de seis investigações, que vão de compra de respiradores a máscaras e álcool gel, todas sob suspeita de superfaturamento.
No ranking de investigações, a liderança cabe ao Amapá (8), seguida de Rio de Janeiro (7), Maranhão (6) e Pará (5). Curiosidade: desses estados, só o governador do Amapá apoiou a eleição de Bolsonaro.
E qual o papel do Rio Grande do Sul nesse mapa de irregularidades? Periférico. Aqui a PF só desencadeou duas operações, Camilo 1 e 2, ambas focadas na cidade de Rio Pardo, onde o prefeito e alguns assessores foram presos por envolvimento em contratos suspeitos com serviços de saúde.
Os políticos gaúchos ficarão imunes à uma eventual CPI? Cedo para dizer, porque não sabemos o que a PF investiga no momento. Além disso, é bom lembrar que o governador Eduardo Leite (PSDB), ao ser lançado por seus correligionários como pré-candidato à Presidência da República, virou oponente de Jair Bolsonaro (sem partido). Não é difícil imaginar que um pente-fino sobre contratos do governo gaúcho relativos ao combate à pandemia venha a ocorrer em breve. Os governadores afastados Wilson Witzel e Carlos Moisés, aliás, atribuem a manobras políticas as investigações que sofreram. Coisas da arena eleitoral chamada Brasil.