Nem entre generais pega bem a ideia de generais comandarem as Polícias Militares do Brasil. É o que se constata em rápida consulta com alguns estrelados das Forças Armadas. A proposta foi feita pelos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, no Congresso. Ainda é discutida.
A colega Tânia Monteiro, do jornal Estado de São Paulo, ouviu vários generais do Exército. Eu ouvi alguns, sob condição de anonimato, porque os regulamentos proíbem que eles emitam opiniões fortes. O único que concordou em falar sem ocultar o nome é o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo (demitido por Jair Bolsonaro) e ex-secretário nacional de Segurança Pública do presidente Michel Temer. Um homem que pode abordar com propriedade o assunto, portanto.
Ele é radicalmente avesso à ideia de generais nas PMs, o que considera “intempestiva e sem justificativa real”. Ele e outros graduados das Forças Armadas temem conflito hierárquico, caso um general da PM divergisse das diretrizes de seus colegas do Exército. É o caso de operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), que as Forças Armadas desencadeiam para prevenir distúrbios de rua e ameaças a prédios públicos. E se o general estadual for contra esse tipo de ação?
Outra contrariedade é quanto à proposta de que tanto o comandante da PM (um general, no projeto dos bolsonaristas) quando o chefe da Polícia Civil sejam indicados mediante lista tríplice e não possam ser demitidos, a menos que existam “justificativas ratificadas pela maioria do Legislativo”. Isso tiraria dos governadores o poder de manter ou dispensar seus colaboradores. Mais: ensejaria uma corrida do favorito para manter seu posto, uma politização “inadmissível” do ponto de vista das Forças Armadas. Eles lembram que generais não devem trabalhar para enfraquecer governos estaduais e favorecer os federais, nem vice-versa.
A realidade é que tanto líderes das Forças Armadas, como os governadores enxergam com desconfiança a proposta de generais na PM e lista tríplice para chefias, por isso os projetos têm poucas chances de prosperar. Mas Brasil é Brasil...sempre há espaço para surpresas.